A passada noite de sábado encerrou uma rara e grata surpresa, corridas que estavam algumas semanas de desatenção cinéfila. A vida dos outros. Imagino Portugal antes de Abril de 74. Outros tantos países antes das suas revoluções. Lembro Orwell. Imagino quantos carteiros-ex-stasi não haverá por aí. Como conviverão consigo próprios? Terão tido o fôlego da redenção?
Melhor actor em melhor filme estrangeiro – Ulrich Mühe
Este álbum de José Afonso, gravado em 1976 e nunca editado em Portugal, é um dos muitos que se podem encontrar na Rádio do site Informação Alternativa.
um vou denunciar a tua beleza às forças do mal. para que sustentem a teoria de que vens do paraíso ainda defendida pelas coisas mais puras. e quero ver-te salva a cada investida, quero ver-te protegida, e se não forem divinas as forças que te mantiverem intacta, hão-de ser minhas, para te suscitar o amor e obrigar a vê-lo por inteiro no melancólico desamparo do meu tão cansado e ansioso olhar
dois vou construir um muro em teu redor e ficar a ver-te quieta sentada no chão. poderás encontrar amigos na terra, pequenos bichos que passeiem por aí e te queiram pousar na mão por um tempo. vou amar-te em cada segundo apreciando o teu silêncio e o teu modo paciente de te veres livre do muro. e vou deixar-te partir quando, apegada às pequenas criaturas, te apegares a mim, pequeno no mundo, sem nada, apenas feito para ti até ao fim
Um homem pode amar uma pedra uma pedra amada por um homem não é uma pedra mas uma pedra amada por um homem
O amor não pode modificar uma pedra uma pedra é um objecto duro e inanimado uma pedra é uma pedra e pronto
Um homem pode amar o espaço sagrado que vai de um homem a uma pedra uma pedra onde comece qualquer coisa ou acabe onde pouse a cabeça por uma noite ou sobre a qual edifique uma escada para o alto
Uma pedra é uma pedra (não pode o amor modificá-la nem o ódio)
Mas se a um homem lhe der para amar uma pedra não seja uma pedra e mais nada mas uma pedra amada por um homem