quarta-feira, 2 de março de 2005

cinema Europa em Campo de Ourique

Câmara de Lisboa diz que futuro de Cinema Europa "está em aberto"

A Câmara de Lisboa revelou [segunda-feira] que o futuro do Cinema Europa, edifício da década de 1930 em Campo de Ourique, "está em aberto", pois foram considerados sem qualidade os três projectos urbanísticos apresentados para a zona.


Em declarações à Agência Lusa, o assessor da vereadora do Licenciamento Urbanístico, Eduarda Napoleão, disse que "a autarquia apreciou três projectos" de urbanização que implicariam a demolição do edifício e considerou-os "sem qualidade", pelo que "tudo se mantém em aberto".

O assessor de Eduarda Napoleão adiantou que "a entidade responsável já aprovou a desafectação do cinema a sala de espectáculos, pelo que a Câmara agora só pode deferir ou indeferir projectos".

A Agência Lusa tentou confirmar esta informação junto da Inspecção-Geral das Actividades Culturais, entidade que tem competência para licenciar os recintos de espectáculos, mas tal não foi possível em tempo útil.

Contactado pela Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável, Lourenço Bernardino (PCP), considerou que a destruição do Cinema Europa constitui "um crime à cultura do país e da cidade".

O autarca comunista diz estar preocupado com esta possibilidade e afirma que "desde 1997" tem perguntado qual será o destino do cinema, que é propriedade privada.

Na altura, a RTP deixou o cinema, que ocupara durante cerca de 20 anos, mas o espaço foi entretanto arrendado a Carlos Cruz.

Em Dezembro de 2001, pouco antes das autárquicas, o anterior presidente da Câmara João Soares comprometeu-se a pagar a renda até ao ano seguinte, para que ali fosse desenvolvido um projecto cultural entre a Junta de Freguesia e a autarquia, contou Lourenço Bernardino.

Depois das eleições, Santana Lopes anulou o protocolo e "desde então o cinema está encerrado", disse.

Lourenço Bernardino diz ter questionado recentemente a Câmara sobre o Cinema Europa, tendo obtido a informação de que "os três projectos foram indeferidos", e que estão a aguardar "um projecto melhor".

"Para a Câmara de Lisboa não está em causa a demolição do edifício, mas sim um projecto suficientemente bom. Resta saber para quem é que o projecto será bom", lamentou.

O anúncio da demolição do cinema gerou um movimento de protesto por parte de moradores da zona, que começaram a espalhar cartazes pelo bairro e criaram um blogue [http://www.soscinemaeuropa.blogspot.com/], onde debatem o assunto.

Em declarações a Agência Lusa, António Contador, um dos impulsionadores do movimento, lamentou a demolição do edifício e defendeu que o cinema deveria ser "o ex-libris de Campo de Ourique, pela sua imponência e interesse arquitectónico".

O residente defende que o espaço, com capacidade para 800 pessoas, deveria ser transformado num fórum cultural, com +laboratórios+ (salas de pequena dimensão) "destinados a teatro, cinema, actividades para crianças, aulas de música, envolvendo a população e com propostas aliciantes não só para os moradores de Campo de Ourique, mas também para os lisboetas em geral".

Também a residente Cristina Correia considera "lamentável que Campo de Ourique não tenha uma sala de cinema, teatro, ou qualquer animação cultural".

Cristina Correia destaca o "imenso valor arquitectónico" do edifício, sustentando que "a sua destruição não pode deixar de ser considerada como uma rude machadada no património cultural e arquitectónico lisboeta".

O movimento de cidadãos vai participar quinta-feira na reunião pública da Junta de Freguesia de Santo Condestável [16h00], decidindo depois formas de protesto, que poderão passar pela recolha de assinaturas num abaixo-assinado, acções de ruas ou uma conferência de imprensa.

Contactada pela Lusa, fonte do Instituto Português do Património Arquitectónico afirmou que o cinema não está classificado, pelo que qualquer decisão sobre o futuro do edifício não carece de parecer deste organismo.


Agência LUSA 2005-02-28

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