"A noite, o que é?, 54.
Havia um pátio, gente em redor, um colorido, tudo o que se perdeu ficou lá. Mesmo a felicidade, como um doença de que nunca me livrei. Mesmo aquele cheiro de que até hoje não me libertei. Aquele cheiro indefinido em volta de tudo. As pessoas liam e perguntavam. Procuravam sinais. O maior erro é o de procurar sinais no que se escreve. A infelicidade, às vezes, provoca grandes momentos de alegria. A alegria é uma fenda, uma noite no meio da folhagem. Escreve-se: «Folhagem, aroma, mão, braço, rosto, janela, noite.» E as pessoas não suspeitam que o sofrimento deixou de ser apenas uma espécie de metáfora mas que nunca se esquece essa imagem, as folhas das árvores vistas da janela. O grande mal que a literatura faz. Escrever é ser o contrário. Escreve-se contra a recordação, contra os sinais, contra as marcas; é a única honestidade, a única saída."
SC
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
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