domingo, 31 de agosto de 2003

Osso de escabeche (1) :-


American breakfast for two

Ingredientes: ovos (5); pimento verde (1/2); pimento vermelho (1/2); jalapeño (1/2); tomate maduro (1); queijo mozarella lascado (1 colher de sopa); corn chips (10 de tamanho médio); salsa (qb); sal e pimenta (qb); azeite (qb); salsichas pequenas frescas de porco (4); batata (1); laranjas (4); pão fresco (qb).

Tempo de preparação: 20 minutos.

Custo: entre 5 e 10 euros.

Dificuldade: * [de *fácil a ***difícil].

Preparação: Cortam-se os pimentos, o jalapeño e o tomate aos cubos pequenos e passam-se por lume médio, numa frigideira com um fio de azeite, durante 5 minutos. Misturam-se os ovos previamente batidos e deixa-se em lume médio-brando durante 5 ou mais minutos, mexendo regularmente para evitar pegar ao fundo. Quando os ovos estiverem quase cozidos, polvilha-se com uma mistura de queijo mozarella, salsa picada e pimenta. Juntam-se as corn chips e deixa-se repousar durante um ou dois minutos.

Serve-se acompanhado com batatas fritas aos cubos pequenos e salsichas grelhadas. Pão e sumo de laranja natural completam a mesa.

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

Regular Gas :-


Muito se falou e disse sobre a legitimidade da guerra do Iraque e sobre o impacto que ela poderia vir a ter na economia da américa do norte e do mundo.

Mas assim mais terra-a-terra - sem grandes elaborações - o facto é que estou a pagar 1,6 dólares por galão de gasolina, quando há ano e meio pagava pouco mais de um dólar. Não sei para o que é que esta guerra serviu, mas para baixar o preço da gasolina não foi concerteza.

Só espero que isto venha a ter um efeito devastador nos eleitores americanos.

Ponto final parágrafo.

[Em breve, voltarei mais seriamente ao tema das próximas eleições primárias americanas. Do atlântico ao pacífico; do golfo do méxico aos grandes lagos. Agora, tenho que ir trabalhar noutras coisas.]

Mil trezentos e dezasseis vírgula sete :-


Há números muito simples e o número um é, seguramente, o mais simples de todos.

Utilizamo-lo tão frequentemente que nos esquecemos que é um número. É nosso, por ser banal. É Intí­mo e cruel. 1 caniche; 1 presidente americano inenarrável; 1 presidente da câmara municipal de Lisboa La Féria; 1 ministro da defesa que acredita no milagre de Fátima. 1 labrador castanho; 1 livro do Nick Hornby; 1 disco do Caetano; 1 jantar em Ocracoke com a pessoa que se ama. O número um quantifica, igualmente, o que de mais único gostamos e o que de mais único detestamos.

Mas há números muito mais complicados do que o 1; muito mais difí­ceis de se percepcionar. Números tão grandes que são literalmente do «outro mundo». Como, por exemplo, 70 triliões - um sete seguido de 22 zeros -, que representa a quantidade estimada de estrelas no Universo; dez vezes mais do que o número de grãos de areia das praias do planeta Terra.

Do outro lado do espectro, os números muito pequenos, podem também ser inimagináveis. Qual é a concepção que se tem do diâmetro de um protão que, em metros, é um milésimo de bilionésimo - um zero, uma ví­rgula, mais 14 zeros e o algarismo um no fim?

Mas estas são grandezas de outros mundos. Mundos para o Hubble e o CERN nos ajudarem a perceber melhor. Aqui, na nossa escala, os números parecem mais simples. Ou talvez não.

Tudo isto vem a propósito de um número aparentemente simples. Tão simples como outro qualquer que consigam imaginar. Um número «deste mundo»; muito mais próximo de 1, do que de 70 triliões, ou de um milésimo de bilionésimo. Mas que, mesmo assim, está a causar uma enorme dor de cabeça ao ministro da saúde e aos gestores do sistema de saúde pública nacional.

1316 é um número provisório. Resulta de um estudo promovido pelo Observatório Nacional de Saúde (ONSa), e representa a estimativa do número de mortos causados pela onda de calor da primeira quinzena de Agosto.

Mas, mesmo não sendo um número grande ou pequeno, 1316 mais parece um número «do outro mundo».

Primeiro, o relatório (formato zip) publicado pelo ONSa está incrivelmente mal escrito e mal estruturado, para além das quantidades aí referidas parecerem não estar muito bem definidas. Mais, o resultado numérico da análise efectuada foi "acidentalmente" arredondado, pelos autores do estudo, de 1316,7 para 1316, violando regras básicas de tratamento de resultados. Mas, claro que isto é irrelevante, porque 1317 é a mesmíssima coisa que 1316, não fosse o erro associado a uma análise deste tipo necessariamente grande. Só que, pasme-se, o estudo em causa não refere uma única fonte de incerteza. 1316 certinhos é o resultado final; nem mais, nem menos; nem mais ou menos.

Segundo, o impacto polí­tico da divulgação do relatório, resulta claramente da janela de oportunidade que foi criada pelo que de parecido se passou em França. Ou seja, estamos na presença, uma vez mais, de um número político, tão igual a tantos outros números do passado.

O problema, claro está, é que 1316 é por enquanto - e talvez por muito mais tempo -, um número tão irrelevante para a discussão em torno do impacto do excesso de calor na saúde pública dos portugueses, como é o número 305 [hectares ardidos] irrelevante para a discussão em torno do impacto da má gestão florestal e agrícola nos incêndios florestais. É que, enquanto só soubermos fazer contabilidade, continuaremos a olhar para os números como meros aglomerados de algarismos árabes.

O passo importante, esse, só será dado quando os integrarmos na nossa experiência. Quando os entendermos tão bem, que anteciparemos a dimensão do seu impacto nas nossas vidas. Quando os dominarmos, ao ponto de os manipular em nosso benefí­cio. Para que não se repitam. Nem estes, nem outros parecidos.

quinta-feira, 28 de agosto de 2003

I Have a Dream :-


«[...] I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal." I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at a table of brotherhood. I have a dream that one day even the state of Mississippi, a desert state, sweltering with the heat of injustice and oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice. I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today. [...]»

Faz hoje 40 anos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Florida ballot (1)* :-


Com o intuito assumido de sensibilizar o povo português para as novas tecnologias da informação e de contribuir para a modernização do nosso sistema eleitoral, o Cão de Guarda disponibiliza, a partir de hoje, um sistema de QuickVote à lá CNN.com.

Obviamente que a primeira pergunta não poderia ser outra, senão aquela que tentasse identificar as preferências caninas dos leitores do Cão de Guarda. Os candidatos a votação são de natureza fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Como nestas coisas da tecnologia o que conta é a máquina e não o humano, o sistema só aceita um voto por endereço IP, que é quase o mesmo que dizer «um voto por computador». Contudo, isso está longe de implicar que o assíduo e adepto leitor do Cão de Guarda não possa exercer o seu direito e dever mais do que uma vez. Longe disso. De facto, para o fazer, basta que tome de assalto os computadores dos seus amigos e inimigos e que expresse, com a ajuda dos ratos deles, todo o seu potencial de expressão democrática. Assim, não só votará mais do que uma vez, como conseguirá bloquear qualquer tentativa de voto nesse computador por parte de outra pessoa.

Os resultados desta sondagem serão cientificamente analisados por um especialista em estatística e jornalista licenciado pela Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. [O gajo é meu amigo e eu, por vontade própria, estou a pagar-lhe uma avença de 1500 euros/mês com dinheiros da Câmara Municipal de Oeiras. Faço-o só porque me apetece e ai de quem me chatear com perguntas sobre o assunto. Qualquer semelhança com o caso do amigo do Isaltino é fruto do acaso.]

* O título desta nota foi alterado de "Vota online!" para "Florida Ballot (1)" por motivos de consistência futura (nada que tenha a ver com memória futura).

domingo, 24 de agosto de 2003

Às moscas na segunda circular :-


Durante alguns meses, a segunda circular de Lisboa, entre Benfica e o Campo Grande, terá tido a maior densidade de estádios de futebol do mundo. Enquanto se construiam dois novos, deitavam-se abaixo outros dois. Os primeiros, erguidos à luz de decisões que violam as mais básicas regras de planeamento e de bom senso; os segundos, deitados abaixo fazendo fé na segunda lei da termodinâmica.

Ontem, foi o primeiro jogo oficial no novo estádio-centro-comercial de Alvalade. Com uma capacidade para 55 mil pessoas, o jogo Sporting-Belenenses não conseguiu atrair mais de 30 mil almas. Um autêntico fiasco.

Poucos jogos, ao longo deste campeonato, terão as caracterí­sticas que o de ontem teve. Um primeiro jogo oficial, por si, deveria ser suficiente para encher Alvalade. Além disso, não foi o Moreirense de Moreira de Cónegos que ali foi jogar, mas o Belenenses de Belém, que só no bairro da Ajuda deve ter adeptos suficientes para encher a bancada norte.

Talvez o Benfica, o Porto, ou ainda uma equipa maior das competições europeias, consiga trazer mais gente a Alvalade, mas não se pode esperar muito mais do que o que ontem se viu. E não vale a pena dizer que o jogo com o Manchester encheu, porque o Manchester não joga na Liga do Major Valentim.

E agora, multiplique-se tudo isto por um factor de dois. É que uns kilómetros mais a oeste, há outro gigante a erguer-se. Contas feitas, os 120 mil lugares dos dois estádios irão estar ocupados por pouco mais de 20 mil pessoas durante duas horas por semana.

Às moscas, portanto.

sexta-feira, 22 de agosto de 2003

Mensagens dos nossos Presidentes :-


A internet portuguesa está a transbordar de mensagens de presidentes. Uma pesquisa no google, com a string "mensagem do presidente" +site:pt, produz mais de dois mil resultados. É obra!

Além de muitas, as mensagens são diversas no conteúdo, estilo e apresentação. Na net portuguesa, abundam as mensagens dos inevitáveis presidentes de câmara municipal (sempre acompanhadas por fotografia, não se vá confundir o presidente em questão). Também lá estão as dos nossos CEO's, ao nível e em quantidade das dos presidentes de associações culturais e recreativas. E como nesta história não há melhor do que começar de pequenino, não poderiam faltar as escritas pelos presidentes de associações de estudantes. Tudo o resto, desde que tenha presidente, tem mensagem.

Mas a melhor de todas, pelas referências históricas, visão de futuro e ímpar qualidade literária é, sem sombra de dúvida, a versão inglesa da mensagem de Gilberto Madaíl, presidente da FPF.

Em vésperas de campeonato da Europa, só nos fica bem tamanho insight.

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Ainda Acontece, na rtp.pt :-


Há coisas que me deixam estupefacto: ou aquilo que se escreve em alguns dos sites portugueses é uma autêntica balela, ou algumas das decisões tomadas em Portugal são pornograficamente arbitrárias e levianas.

Repare-se no que ainda aparece publicado no site da RTP, relativamente ao programa Acontece: «Na RTP está o único telediário cultural da Europa que chega a milhões de espectadores pelo mundo fora. Do Teatro, Bailado, Literatura e Cinema às Artes Plásticas e ao novo mundo da Internet, todas as manifestações culturais têm lugar neste espaço informativo com a assinatura de Carlos Pinto Coelho. No ar há mais de oito anos, o Acontece é uma referência dentro do panorama televisivo português pela qualidade do seu jornalismo e pelo cuidado com que a informação é levada ao espectador.»

Que raio de RTP é esta, que continua a elevar aquilo que cruelmente destruiu?

sábado, 16 de agosto de 2003

Relatórios públicos só para alguns :-


Há alguns meses, foi publicamente anunciado, pelo ministério do ambiente, o resultado de um estudo elaborado por académicos portugueses, no qual se colocava em causa a decisão do ex-ministro do ambiente, José Sócrates, em proceder à co-incineração dos resíduos sólidos perigosos produzidos e acumulados, ao longo de décadas, pela indústria portuguesa.

Cedo, os opinion makers da nossa praça vieram declarar José Sócrates como o grande derrotado da evidência científica. Contudo, muito pouca gente teve acesso a esse relatório, e o que deveria ser de natureza pública acabou por circular, exclusivamente, nos meios de acesso restrito a assessores de ministro e directores de jornal. Produziram-se, nos pasquins dos últimos, as afirmações suficientes para educar o público; e foi assim, uma vez mais, que o Estado português achou que estava a comunicar com os cidadãos.

Entretanto, o relatório parece não existir ou, pelo menos, não é de acesso evidente. E os resíduos sólidos perigosos continuam sem ser tratados.