quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Abrupto, claro.
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Carlos José Teixeira on Thu 13 Jul 2006 01:51 WEST

LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO...
Próxima agenda nacional: férias. Férias a seguir a férias, porque isto do Mundial foram também férias. Duvido que este festival de "auto-estima" não dê lugar a uma maior depressão. E não demorará muito tempo.
Os fogos continuam a bom ritmo, matando pelo caminho. Mas, como foram chilenos a maioria dos mortos, sem estarem embrulhados nas cores verde-rubras, não haverá muita comoção. Lá por Outubro, com as primeiras chuvas, com os meninos a ir para a escola, os engarrafamentos, a insuportável banalidade do dia a dia, a bolsa a apertar, as dívidas para pagar, como acontece sempre estas euforias vão azedar-se em múltiplas irritações. E como é que podia deixar de ser assim? O que é que construímos para ser diferente? Onde é que trabalhámos para ter mais? Onde é que poupámos para os dias maus? O que é que aprendemos para nos melhorarmos?
Para onde foi o tempo? A culpa será certamente dos "políticos", como é costume.Volto à minha velha imagem: parece o Titanic, com a orquestra a tocar e a maioria dos viajantes convencida de que é mais um concerto, mais um jogo, mais um Rock in Rio, tudo está bem, curte-se esta cena boa, amanhã se verá. Mais uma cerveja, mais um cachecol, mais uma bandeira, mais um "às armas" que "nós até os comemos!". E a água gelada a subir no porão, atingindo primeiro os da "terceira classe", mas subindo sempre. Sempre.
[in Abrupto, José Pacheco Pereira]
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De: Carlos José Teixeira
Enviado por: googlemail.com
Para: jppereira@
Data: 13/07/2006 00:56

Assunto: Acerca do "LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO..."
Curiosa, a sua analogia do Titanic e muito bem empregue [como lhe é próprio].
O problema, caro JPP, é que chegada a água ao compartimento da primeira classe - altura em que soam os apitos e os escaleres são baixados com toda a pressa - já a terceira e a segunda estão afogadas há muito...
O que resta então? Uma primeira classe que não terá mais nada a fazer senão boiar placidamente durante algum tempo até que um qualquer barco de pesca calhe de passar - declaradamente impune - por águas territoriais. Não se julgue, no entanto, que seja coisa digna de se ver, a dos infelizes náufragos que, sem terem quem lhes sirva o champanhe gelado e borbulhante com que se banqueteiam nas "tendas VIP" tão em voga, ver-se-ão reduzidos uma vez mais à infame condição de pedintes em "vernissages" europeias de brigadas do croquete. Os da segunda e terceira rapidamente serão esquecidos e depressa serão substituídos... à velocidade que desaparecerão dos "prime-times" que se ocuparão, uma vez mais, das escandaleiras substitutas do saudoso "pão e circo" tão amplamente distribuído. E os subsídios, a prorrogação dos prazos, o D. Sebastião, virão.
Que fazer, então?
Enveredar pela recuperação económica? Questionar uma agenda de farsa política e económica? Reconquistar a confiança política dos [alguns] eleitores? Tornarem-se, definitivamente, honestos e transparentes?
Façam o que fizerem, que não vão a banhos, diz-se que os afogados têm a mania de voltar e puxar ao fundo os que se aventuram em trágicas águas.
Cumprimentos,
Carlos José Teixeira
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