quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Cinzas ao Vento [001]

Tenho agora a juntar aos meus cabelos grisalhos as pintas cinza que vão caíndo do céu. Ali à frente, a coluna de fumo ergue-se saudando as criminosas mãos descerebradas que ateiam as chamas por aí.
O ruído das sereias chama a atenção e deixamos passar as carros com os bombeiros do costume - gente rude e voluntária, sem pagamento e invariavelmente conotada com o tasco onde lavam a garganta - que irão, uma vez mais, aguentar a noite sem dormir, enfrentando as altas labaredas de um pinhal qualquer para no dia seguinte serem considerados ineficazes e atrasados.
Os gritos de quem viu a terra crescer e tem agora ameaçada a casa, o gado, os haveres, são de pura impotência. Perder tudo. Ideia avassaladora. Perder tudo, esses que já pouco têm.
Porque não há incêndios na Quinta da Marinha ou na Quinta do Lago?
Portugal em chamas, uma vez mais, e outra, e outra, até que não sobre uma flor viva.
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