quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Qana
by
Carlos José Teixeira on Mon 31 Jul 2006 09:08 WEST

Era menino quando ouvi falar de Qana, eu e todos os que comigo andavam na catequese. Chamava-se, por essa alturas, Canãa e era o local onde Cristo teria operado o seu primeiro milagre, milagre feliz, de transformar a água em vinho para que as bodas pudessem continuar. Existe alguma polémica acerca do verdadeiro local referido por S. João - os israelitas afirmam que o local será um outro, na Galileia, próximo de Nazaré onde JC passou a infância e os peritos bíblicos parecem dar razão aos judeus.
Seja esta ou outra, Canã não é mais o local onde alegremente se transforma água em vinho, é antes o local onde se transforma vida em sangue que mancha as ruas empoeiradas dos bombardeamentos.
Em 1996, as forças armadas israelitas perpetraram um ataque à região que se saldou em 105 mortos, três dos quais seria capacetes azuis da ONU e os restantes civis que se refugiavam na área fugindo dos bombardeamentos às suas aldeias. A operação "As Vinhas da Ira", que se saldou em 200 mortos e 400 feridos entre as forças da ONU e civis libaneses. 600 incursões aéreas e 23.000 obuses mais tarde, israel deixou no chão regado de sangue 175 mortos e 351 feridos, na sua maioria civis.
Agora, um bombardeamento que tudo leva a crer ter sido planeado, mata 57 pessoas, crianças incluídas.
É uma falácia pensar que a guerra é feita por e para militares e considero uma falácia ainda maior o termo "danos colaterias". Nunca houve, nunca há-de haver uma batalha que não tenha a mórbida contabilidade da previsão das baixas militares e dos civis mortos, estropiados, desalojados. Esta é a realidade.
Não há guerras limpas, o cenário dantesco atinge todos os que lá estão. Apenas os que, sentados em obscuros gabinetes gerem os títeres descarnados da opressão dos Povos e do assassínio de crianças, escondidos em tenebrosas ondas de fumo de charutos cubanos - é assim que os imagino - podem furtar-se a estas visões aterradoras.
Eles e nós que, sentados frente ao televisor, fingimos a consternação politicamente correcta e passamos as imagens para um canto recôndito do nosso cérebro assim que começa o nosso concurso televisivo preferido.
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