sexta-feira, 12 de setembro de 2003
"Onzes" de Setembro :-
Pois é. Aquilo que se pensava ser exclusivo da blogosfera utrapassou as fronteiras cibernáuticas e foi parar direitinho à biosfera; mais propriamente à capa do jornal Público de ontem.
Sem nada que o fizesse prever, o Público decidiu evocar a passagem dos 30 anos sobre o golpe de estado militar no Chile. E fê-lo com honras de primeira página. Na mesma página, note-se, onde é evocada a passagem dos dois anos sobre os atentados terroristas em território norte-americano.
As reacções não se fizeram esperar. Alguma direita, sente-se ofendida com a referência ao General Pinochet. E alguma esquerda, só não se manifesta, porque foi apanhada de surpresa e não estava à espera de tamanha prenda.
Mas a capa do jornal Público é tudo menos inocente e "politicamente correcta". É, aliás, uma grande provocação. Porquê fazer capa com as fotografias de Pinochet e do Pentágono, se os símbolos máximos de um e de outro "11 de Setembro" são o palácio de La Moneda e as torres do World Trade Center?
A substituição de símbolos civis por militares não foi, obviamente, acidental. Foi, até, um gesto muito malandro. Ao fim e ao cabo, foi o poder militar americano - que se pensava imbatível, mas cuja sede máxima aparece na fotografia da capa com a fachada caída - que ajudou Pinochet a destituir um governo de legitimidade democrática.
E isto é um claro piscar de olhos à esquerda, como há muito não se via lá para os lados da Rua do Viriato. Só que pela esquerda que me toca, não aceito tão pornográfica tentativa de sedução.
P.S. É simplista a afirmação de que o dia de ontem foi sentido de forma diferente, em sítios diferentes. Mas não há forma alguma de lutarmos contra o relativismo, no que toca a emoções. Para duas crianças suecas, o dia de ontem foi trágico. E não teve nada a ver com o Chile ou com os Estados Unidos. Teve sim a ver com um assassinato inexplicável. O assassinato de uma mulher, ministra sueca dos negócios estrangeiros e adepta incondicional da adesão da Suécia ao euro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário