segunda-feira, 29 de setembro de 2003

Petisco

- Wuf!
- Béu.
- Grrrr.
- Caim, caim, caim!!!
- Tem calma. É só para saberes quem manda.
- Já estou mais aliviado. Acho eu...
- Agora vira para cá a nalga para eu cheirar.
- Está bem, mas depois vira tu a tua, que como és muito grande não dá para um 69 olfactivo.
- Ahh. Andas a comer Orlando. Os teus donos têm a mania da poupança e compram dessa treta no Lidl, não é?
- Pois. Eu já me fiz de esquisito e passei dois dias sem comer, mas depois a fome venceu o paladar. Agora habituei-me e já não custa tanto.
- Aconteceu-me o mesmo. Mas aquilo dava-me cá uma volta aos intestinos que acabava por borrar a casa toda, não me aguentava. Agora dão-me Eukanuba. Até uivo de prazer.
- Deixa lá cheirar. Mas... mas... não me cheira a Eukanuba! Cheira-me a torta de chocolate e fiambre.
- Ah, pois é. O Sr. Ventura, o dono do café, estraga-me com mimos. Mas não é todos os dias que o meu dono não deixa porque aquilo dá-me o mesmo efeito do Orlando. Mas sabe tão bem... Agora é só quando ele está distraído a ler o jornal que Sr. Ventura me dá qualquer coisa. Pudera, passo o tempo todo a olhar para a vitrine com cara de fome e o homem tem pena. Deve pensar que não me dão que comer em casa.
- És guloso, já vi. Somos dois. Eu por exemplo adoro manteiga de amendoim.
- Ah sim? Nunca provei.
- Pois é. A minha dona adora que eu lamba aquilo. Ela barra aquilo na... na... bem, está a puxar-me, quer ir embora. Ó dona, só mais um bocadinho...
- Espera aí, barra aquilo aonde? Ei! Diz lá!
- Não consigo, a coleira está-me a esganaaaaaaaaaar.
- Não ouvi! Ladra mais alto!
- Gasp! Gasp!
- Bolas. Não é justo. Toma lá uma dentada, dono!

- Aiii! Porra. Filho da mãe, logo me havia de calhar um cão maluco por 100 contos. Tanto rafeiro a precisar de casa e fui comprar este atrasado mental. Chiça penico! Sorte malvada.


Luis Duarte

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