domingo, 18 de abril de 2004

História Contemporânea

Cheguei agora do cinema.
Este filme, fui vê-lo a conselho de uma colega que sabia que eu tinha gostado imenso de dois outros, canadianos, passados há uns meses no Quarteto e com a particularidade de sendo dois filmes distintos, fazerem uma continuação. Refiro-me a “A Queda do Império Americano” e “A Invasão dos Bárbaros”. Acho que lá mais para baixo lhes dediquei um post, porque gostei muito e achei a ideia genial de, com vinte e tal anos de intervalo, encontrar os mesmos actores e agarrar as mesmas personagens.
Desta vez a colega enganou-se. Não tem nada a ver com o outro exemplo. Trata-se de um único filme, simplesmente como leva seis horas a ser exibido está dividido em duas partes. E é italiano o que marca toda a diferença.
Será muito forçado fazer comparações, mas este está mais na linha do “1900” do Bertolucci. Aliás tudo se interliga, porque o título do filme “La Meglio Gioventù” é tirado de um conjunto de poemas de Pasolini, também um realizador de culto (pelo menos para mim)
À chegada encontramos dois irmãos no finalzinho da adolescência e, ao fim de umas horas passadas na sua companhia, despedimo-nos já de um avô, embora acabado de casar. Ao longo desta vida e das que lhes estão associadas passa a história da Itália, da Europa, do Mundo. Está lá tudo. Esperanças, lutas, coragem, resignação, conformismo. Perspectivas femininas e masculinas do mundo. Discussão de estereótipos. O ponto de vista de crianças e de velhos. Opções contrárias perante o mesmo desafio. A sociedade e a forma de encarar a doença mental. Ao longo daquelas horas recordamos todas as canções que foram famosas ao longo de 40 anos...
É uma Itália viva, - futebol, máfia, acidentes naturais como as cheias, crise, desemprego, desunião em famílias. Muitas dúvidas sobre o certo ou errado – uma mãe que deixa a filha para seguir as Brigadas Vermelhas. Achou que lutava melhor pela filha daquele modo? O pai de um médico morre de cancro. Onde está a ciência, nestas horas? Uma mulher, mãe e professora, grandes olhos tristes, 4 filhos adultos e sempre boa profissional e disponível apesar de em permanente discussão com o pai. Tantas mulheres como esta que conhecemos!
Violência, terrorismo, crimes de colarinho branco. Como defeito, achei que um dos irmãos, Nicola, possivelmente o protagonista se é que os há neste filme, é talvez excessivamente perfeito! Os possíveis erros que comete são-no por excessivo respeito pela vontade dos outros. A violência complicada do irmão Matteo que não encontra caminho virando-se para si mesmo, é vista também como uma fuga por alguém que lhe diz: “Já sei porque gostas tanto de livros. É que eles podem fechar-se quando queremos. A vida não!” Ele decide que pode não ser assim. E é também uma grande história de amor, como se adivinha. Mas é sobretudo uma lição de História.
Já viram que isto é apenas um enunciado de pontos importantíssimos que o filme foca. Não é uma crítica, são as minhas impressões. Muito vivas ainda. E também um conselho: se vivem em Lisboa percam/ganhem ( ? ) duas noites ou duas tardes e vão ao King. Saem de lá mais ricos.
M.L.

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