Assisti, há poucos dias, ao um lançamento de um livro que foi simultaneamente uma lindíssima festa. Não era um romance, embora quase se possa encarar como tal. Era um livro técnico onde o autor enquanto descrevia o seu método de trabalho e respectivos fundamentos ia fazendo deslizar a história da sua vida. O que foi comovente, foi confirmar as centenas de amigos que lhe foram dar um abraço. E digo, amigos, não assistentes a um acontecimento. Poucas vezes na vida tenho sentido vibrar uma emoção com tal densidade que se "via" no ar como um fumo colorido. O leque de idade das pessoas era bastante aberto porque apesar de, naturalmente, predominarem as da idade dele, em fim de carreira, também havia muitos, mas muitos, jovens. Viam-se mesmo algumas crianças levadas pelos pais - até uma neta do próprio autor, bebé de 3 meses! Mas todos ou quase todos se conheciam bem entre si, tratavam-se por tu, diziam as frases da praxe: "Eh pá, aos anos que não te via! Tás na mesma!" ( é sempre bom ouvir isso, mesmo sabendo que não é verdade...)
E o nosso amigo no meio dessa multidão de afecto. Ao chegar ao palco disse "Sinto-me o Wally...!" e estava bem visto, porque quase desaparecia. Mas o que eu queria referir é que talvez alguns dos que ali estavam lhe quisessem dar um abraço especial. Há poucos anos ele teve um AVC grave. Como é uma força da natureza, recuperou magnificamente. Mas os amigos tinham ficado de respiração suspensa. Porque tendo um feitio especialíssimo, que só ele, nós sorrimos, abanamos a cabeça e dizemos: "É mesmo de fulano" com enorme ternura. Ele é ele. Não há ninguém igual. É uma pessoa de tal generosidade, e com um coração tão grande, que mesmo quando não concordamos - e se ele é teimoso! - , rimos e passamos à frente.
Ora era exactamente agora que se justificava a homenagem. Na altura do AVC era de mau gosto, parecia um rebuçado para ajudar à cura. Daqui a 10 ou 20 anos sabe-se lá quantos dos que ali estavam estarão lúcidos e com forças para o tal abraço. Agora sim. Não é um fecho de carreira, que uma carreira daquelas continua sempre aberta, mas um forte agradecimento dos que beneficiaram da sua influência, e aprenderam com ele.
Foi uma tarde inesquecível.
M.L.
sexta-feira, 2 de abril de 2004
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