terça-feira, 13 de abril de 2004

Que vergonha!

Há coisas que me incomodam. Que me incomodam mesmo muito. Não é a primeira vez que aqui refiro os enormes mal-entendidos que estão sempre a surgir quando há referências a essa mole indefinida e confusa que dá pelo nome de Administração Pública, ou Função Pública. São 2 blocos antagónicos. Quem trabalha no privado a considerar que “os outros” são um bando de calaceiros que não fazem nenhum, vivendo dos impostos que a malta da privada paga, e quem trabalha para o Estado a achar que é desconsiderada e mal paga e que todos a odeiam ( além de que também paga impostos, como é óbvio, é uma espécie de patrão de si mesmo no pior sentido). Raramente é referido que “funcionário público” é mais do que a senhora do guichet, - é o professor, o enfermeiro, o polícia, o médico. E é certo que “as senhoras do guichet” funcionam com uma horrorosa burocracia, mas não há nada mais hierarquizado do que o raio da Função Pública. Para se mexer um dedo o chefe tem de pedir ao chefe, que peça ao chefe, que vai pedir a outro chefe e entretanto já não vale a pena mexer o dedo. Onde quero chegar é que o que está mal, muito, muito mal é o sistema das chefias e a sua avaliação, que tem muito de partidário e muito pouco de técnico/profissional.

Esta manhã ia perdendo a cabeça por uma questão completamente ridícula. Ia a passar e esbarro com 2 senhoras com um ar meio desesperado em conversa com uma funcionária também com uma expressão desamparada. “Que se passa?”, quero saber. As desgraçadas tinham ido à Loja do Cidadão fazer uma pergunta sobre a ajuda que podiam ter em relação a um “Lar para Idosos” e tinham sido recambiadas para ali. Devo esclarecer que o serviço onde estávamos não tinha rigorosamente nada a ver com a questão. As senhoras, que não conheciam Lisboa, tinham feito uma enorme caminhada a pé e ali estavam completamente perdidas.
Devo reconhecer que eu também não fazia ideia da resposta. Nem era nada normal que soubesse. Mas naquele momento só podia levá-las para o meu gabinete, sentá-las comodamente e agarrar-me ao telefone até lhes resolver o problema. Era o mínimo. Mas atenção, ainda não eram 9 da manhã, pelo que o mais que conseguia obter eram telefonistas... Contudo a minha vergonha era tanta, pela imagem que a F.P. dava, que às tantas lá lhes arranjei um Nescafé, e tanto insisti que consegui finalmente que as recebessem num local confirmado e com hora confirmada. O ridículo desta história é que o meu tempo é proporcionalmente muito mais caro do que o da primeira pessoa que as atendeu mal. Eu tenho é vergonha na cara, e não olho para o relógio a ver as horas a que saio.
Nota – Também trabalho na função pública.
M.P.

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