Primeiro ouvi pela rádio e li depois já num blog, esta frase espantosa:
«Quando uma pessoa é toxicodependente, foi avisada e contra todo o conselho da família, dos amigos, da estrutura, mantém a sua situação de toxicodependência, eu pergunto: De quem é a responsabilidade?»
A resposta implícita é que quem fala lava daí as suas mãos. Eu digo que é uma frase espantosa porque quem a proferiu foi a pessoa responsável por toda a política portuguesa. Esta posição já deu origem a uma fila enorme de comentários em vários blogs, mas tendo este espaço vou utilizá-lo para mostrar o meu espanto. Fiquei atónita porque o responsável máximo pela educação, saúde, justiça em Portugal lava as mãos do problema da toxicodependência porque "a responsabilidade" é dos próprios que criaram o problema apesar dos avisos da família, amigos, etc. Um barco sai para o mar apesar de avisado que vem a´uma tempestade, se naufragar é bem feito porque devia ter tido cuidado e não se ter posto em risco.
Quem habita este mundo, sabe que o problema da droga é um problema dos finais do século, gravíssimo, que abrange todas as classes sociais, e que não se resolve com "força de vontade". Um dos problemas dessa doença é exactamente perder a força de vontade. E se temos a imagem do drogado-arrumador-de-carros ou gatuno de meia tijela, e isso mete medo ao cidadão comum, podemos lembrarmo-nos que há artistas célebres dependentes de drogas mas nunca roubaram porque ganham muitíssimo dinheiro e não precisam de roubar. Ou seja, o drogado não rouba porque é drogado, rouba porque não tem dinheiro para comprar a tal droga. Dito de outra maneira: se a cocaína fosse ao preço da aspirina, eles morriam como tordos,mas não roubavam. portanto o que deve meter medo às pessoas são os dealers que promovem os negócios, que lavam o dinheiro em negócios lícitos, que iniciam miúdos às portas dos liceus. O consumidor em si é um doente de uma doença terrível. Sacudi-lo porque "a culpa é dele"??
À pergunta, de quem é a responsabilidade, eu diria que é de quem não luta contra o narcotráfico, de quem ataca as vítimas e não os criminosos. Desejo sinceramente que o Dr. Barroso nunca venha a saber que no melhor pano cai a nódoa, e que o Deus em que me parece que acredita lhe afaste esse cálice da boca. Porque, de resto, a Inquisição acabou há algum tempo e as fogueiras estão apagadas e frias.
M.L.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004
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