quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Sinais Exteriores de Ternura

Quando ontem fui reler o Zé Gomes Ferreira ( ao que nos podem levar os concursos de TV!) acabei por ficar colada ao livro, a relembrar passados. E logo na primeira poesia que escolhi, o primeiro verso, “dá-me a tua mão” desencadeou montes de recordações.
O mundo da ternura é enorme mas é de grande delicadeza. E o gesto de “dar a mão” sendo dos mais puros, mais limpos, é um dos que mais me perturba. É certo que se começa por dar a mão quando se é criança e é um gesto de confiança e entrega. Quando damos a mão ao adulto acreditamos que estamos protegidos, que estamos a salvo do mal.
Mais tarde, ainda criança mas mais crescidos, entre amigos, é cumplicidade é algo de indizível. Nunca hei-de esquecer, uma menina dos seus 10 anos que, transferida para uma terra estranha e uma escola desconhecida, se queixava à mãe com uma vozinha a tremer “Mas, mãe, eu cá não tenho uma amiga-de-dar-a-mão !”
E, em adulto, é um gesto no limiar do gesto erótico, mas mesmo no limiar. É aquela margem onde tudo é ainda permitido, se pode ousar, se pode sonhar, mas se pode também recuar. É um toque muito expressivo, mas inocente. Se me permitem, para mim, é talvez de todos o mais sensual. Exactamente por tudo ser ainda permitido.

M.L.

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