segunda-feira, 8 de março de 2004

8 de Março
É engraçado observar como um facto tão pacífico e, até certo ponto, aparentemente consensual, pode gerar posições tão fortes e antagónicas. Refiro-me a ter sido consagrado o 8 de Março como o Dia da Mulher. E, como quase sempre que as posições se extremam, rapidamente se perde a razão. Porque, no meu ponto de vista, o que acontece é misturarem-se conceitos e ideias e nessa caldeirada começamos a discutir coisas diferentes. Vamos ver se consigo expor as minhas ideias com alguma clareza:
Há quem recuse celebrar este dia. Afirme que só faria sentido se existisse um Dia do Homem. E é verdade. Se pensarmos neste dia como de defesa e protecção, como se se tratasse de uma minoria social, entendo que haja quem não o aceite. Na mesma linha o Dia da Criança e o Dia da Mulher, pode ser um pouco... enfim, ofensivo. Também eu reajo um pouco às revistas "femininas", e fez-me confusão o "Sic Mulher". Parece-me que é uma separação exclusivamente sócio-cultural e de estereótipos Mas, a verdade verdadeira, é que não sendo uma minoria, o género feminino ainda é tratado por todo o mundo de um modo discriminatório. Que tem havido, sobretudo nos países do norte, um avanço espectacular no último século e sobretudo nas últimas décadas, é um facto inquestionável. Mas que o "nascer-se mulher" é ainda enfrentar um mundo de dificuldades, creio ser consensual. Lá por ser desagradável, não quer dizer que não seja AINDA um facto que não se pode varrer para debaixo do tapete. Já sei, já sei, que há cada vez mais excepções,( ainda bem!) mas são, por enquanto, excepções.
Mas há a outra faceta. Por algum motivo se escolheu o 8 de Março. Não se pensa que o 1º de Maio, por ser o Dia do Trabalhador seja duma minoria e necessitar protecção, pois não?.As mulheres do 8 de Março são as operárias americanas que enfrentaram o mundo do trabalho. Não são as mulheres-criança, com necessidade de serem protegidas pelos homens, nem são as mulheres-flores, delicadas, frágeis, que devem ser levadas ao colo. É a Mulher-Força que se comemora neste dia. A que vai lutando lado a lado com os seus companheiros para que este mundo seja mais justo. É claro que sócio-culturalmente há diferenças de género. Não acho nada mal, até porque esses valores atribuidos à mulher são bons valores humanos, valores que qualquer homem não deveria renegar por serem considerados "femininos". Não são femininos nesse sentido, são humanos, e isso é bom e justo. Agrada-me essa diferença de género, por enquanto. E é tão bom um mundo com a diversidade de homens e mulheres.
É verdade, sou mulher, e este é um dia de luta e de festa.

M.L

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