domingo, 7 de março de 2004

Reflexões sobre o que é Educar

“ Sabem, eu tinha um fato espacial.
Tudo aconteceu assim:
- Papá – disse eu – quero ir à Lua.
- Com certeza – disse ele, voltando a olhar para o livro que estava a ler. Era a obra de Jerome K. Jerome, Três Homens num Bote, obra que ele já devia saber de cor.
- Papá, por favor! – disse eu – Estou a falar a sério.
Desta vez, ele fechou o livro, marcando-o com um dedo, e disse amavelmente:
-Já te disse que estava bem. Podes ir.
-Pois... mas como?
-Eh!? – Parecia levemente surpreendido – Mas... o problema é teu, Clifford.
O Papá era assim. Quando uma vez lhe disse que queria comprar uma bicicleta, ele respondeu-me: “Está bem, compra”, sem sequer pestanejar; por isso fui ao mealheiro que estava na sala de jantar, tencionando tirar o suficiente para comprar a bicicleta. Mas só lá havia onze dólares e quarenta e três cêntimos e, assim só comprei a bicicleta dali a mil milhas de relva cortada. Eu não disse mais nada ao Papá, pois se não houvesse dinheiro no cesto, não havia em mais lado nenhum; o Papá não ligava aos bancos (.......)” etc.
Este texto é da primeira página de um livro de ficção científica, de um autor que eu aprecio muito, Robert A. Heinlein. Mas não é sobre ficção científica que eu gostava de falar e sim sobre educação. Esta situação parece-me exemplar de um correcto momento educativo. É claro que sem se ter lido o romance não se pode saber que este pai já tinha ensinado ao filho como se construía uma cana, se colocava o anzol e qual o melhor isco. Entre o “dar o peixe” e o “mandar à pesca” tem de haver o momento de “ensinar como se pesca”, como é evidente. Mas tenho a firme convicção (e creio saber do que falo, que é a minha profissão) de que o problema mais grave da educação actual é os pais/educadores não encontrarem o ponto certo entre o facilitar exageradamente os gostos e desejos dos seus rebentos, ou o recusarem também radicalmente numa atitude de desinteresse por aquilo que é pedido. Encontrar esse ponto de equilíbrio não é nada fácil, mas é a base do processo educativo, acreditem.
M.L.

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