quarta-feira, 24 de março de 2004

Sentenças insensatas

Li ontem uma local no Público, e mais tarde assisti a uma reportagem na Sic, sobre o resultado do julgamento de um agente da polícia que matou um jovem no Bairro da Bela Vista. Esta notícia deu origem a um post no Barnabé com dezenas e dezenas de comentários. Há para ali muita coisa que me deixa perplexa. Entre os tais comentários muitos deles inseriam-se numa mesma linha. Sumariamente diziam:
"Vocês não sabem do que estão a falar porque não dominam a matéria em causa; não são de direito" ou
"O tipo era um facínora o polícia defendeu-se e fez muito bem" ou
"Não podemos acreditar no que se diz nos jornais, só se podia ter opinião se tivéssemos estado no tribunal"
Bem, vamos partir do princípio que os media servem para informar. Muitas vezes informam mal, mas a verdade é que ainda é a fonte que todos temos. O cidadão comum não pode ir à origem da notícia ( e mesmo então também se pode enganar...) Analisando essa notícia o que se vê é que um cidadão representando a autoridade e armado, abateu outro cidadão. Tão simples como isso. A desculpa, ou uma das desculpas, do assassino foi de que não sabia que "aquilo" podia matar. E é isso que nos faz pasmar. Que haja polícias armados com armas que desconhecem e que o tribunal considere isso como uma atenuante, até para evitar indemnizar a família da vítima!
Ou eu estou enganada ou até os acidentes implicam indemnizações. Se uma pessoa for na rua e lhe cair um vaso em cima, o dono da janela onde estava o vaso, mesmo que não estivesse em casa, terá - e muito bem - que indemnizar o mal que fez. Num desastre de automóvel, se uma pessoa fica ferida, a companhia de seguros é obrigada a reparar económicamente esse dano. O dono de um cão é responsável pelos estragos que ele realizar. Então como é possível, um polícia estar acima dos comuns mortais, e dizer inocentemente "Opppps!..Não sabia que isto aleijava... Desculpem lá!"
Entre os muitos comentários que li, vários iam no sentido de que o morto era mau e o polícia era bom. Voltei ao Jardim de Infância. Estamos afinal a brincar aos polícias e ladrões. Mas de volta ao mundo real, parece que isso não é tão consensual como isso, e há para aí uns testemunhos a dizer que o rapaz até queria separar os outros que estavam à luta, etc.
Acho que isso não interessa, são pontos menores do folclore. O que me parece é que a nossa polícia deve andar cheínha de medo ( só pode!) mas tem a obrigação de conhecer as armas de que dispõe. Se não são eficientes, ou são eficientes demais, tratem disso. E quando se faz uma burrada, não deve saltar logo o espírito corporativo e sim assumir as consequências do que fez. A ser certo o desconhecimento da perigosidade da arma, então seriam as chefias a indemnizar a família da vítima. Só que parece que vivemos numa terra onde o maior irresponsável é mesmo o Estado.

M.L.

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