sexta-feira, 12 de março de 2004

Tanto ódio

Por feitio, por convicção, por educação, sou pacifista. Respeito profundamente a vida humana e o “dente por dente e olho por olho” sempre me pareceu um conceito primitivo e selvagem. É evidente que há monstros, ditadores sanguinários que devem ser neutralizados e impedidos de continuar os seus crimes. Mas, mesmo para os monstros, não acredito na pena de morte, seria descer ao nível deles. Daí a minha dificuldade em entender certos modos de pensar e de agir.
Quando foi o 11 de Setembro fiquei estarrecida. Mesmo não aceitando morte nenhuma, mas se os alvos tivessem sido apenas o Pentágono ou a Casa Branca, continuava a não aceitar mas digamos que compreendia. O terem atingido as Torres aquela hora, cheias de gente, senti que não aceitava nem sequer compreendia. Nunca por nunca. Matar e matar gente inocente só como aviso, era uma monstruosidade.
Este 11 de Março faz reacender a mesma incredulidade. Como é possível ? Aquela gente não tem nada a ver com o Poder, com os Centros de Decisão. O Poder deste mundo não anda de comboio suburbano às 8 da manhã. Anda de carro com motorista ou avião privado. E isto, volto a dizer, compreendendo mas não aceitando que se mate seja quem fôr. O horror de Madrid é uma amostra de ódio, selvagem, descontrolado, que não parece ser humano. Porquê odiar-se tanto? Indiscriminadamente. E friamente, planificadamente, de um modo que, pelas informações, ainda poderia ser pior. Que loucura pode levar homens a pensar com cuidado e rigor, durante muito tempo, no modo mais eficaz de matar, e matar na maior quantidade possível? Não consigo imaginar. Esta explosão brutal de ódio em estado puro deixa-me mesmo sem capacidade de pensar. Se o que se pretendia era chocar então conseguiram – o que todos sentimos é horror e choque. Mas, volta a perguntar, para quê?

M.L.

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