Não sei se alguém se lembra de dois filmes franceses ( ou podemos considerar um, “duplo” ? ) que passaram já há uns anos nos nossos cinemas, chamados, exactamente, um deles "Fumar" e o outro "Não Fumar". Era quase um exercício de estilo, uma história contada e recontada por diversas personagens sob o seu exclusivo ponto de vista. No filme "Fumar" toda a gente fumava. No filme "Não fumar" a história era rigorosamente igual mas ninguém fumava. Creio que o filme era do Resnais, mas já não vou jurar. Era leve, engraçado e nada tonto porque o que demonstrava era a enorme subjectividade com que se encara o grosso dos acontecimentos que nos rodeiam, a história era um caleidoscópio de opiniões.
Quando ontem ouvi a notícia sobre a lei irlandesa a propósito do tabaco, tive a certeza de que iria dar faísca por aqui na blogosfera. Era óbvio e os cerca de 80 comentários num post do Barnabé vieram logo confirmar esta previsão. Não fui lá comentar, já o tinha feito mais atrás quando o assunto tinha sido anteriormente abordado, e havia ali pano para muitas mangas mesmo sem a minha ajuda. Mas, não resisto a dar também opinião.
Não sei se interessa ao caso, mas não fumo. O meu vício é mais o café. Mas sou bastante tolerante com quem o faz, não me incomoda sentir um ou dois cigarros acesos na sala onde estou. E ainda por cima, graças a todas estas campanhas, a minha experiência pessoal é que os fumadores estão muito mais comedidos. Uma nota interessante é que se pode situar um filme no tempo pelo facto das personagens andarem ou não de cigarro na mão. Hoje, uma pessoa tira um maço e a cortesia manda perguntar "Não te incomoda?", há umas dezenas de anos, era-o tirar o maço e oferecer. Creio que é sintomático.
É claro que tudo o que é proibido gera logo anti-corpos a desafiar. E o que eu sinto é que "não havia necessidade" como diria o nosso diácono. O caminho tem-se feito, lentamente talvez, mas no mesmo sentido. Hoje achamos natural não se fumar nos cinemas, mas antigamente fumava-se e muito. Hoje não se fuma em transportes públicos, mas é coisa recente. Já há uns anos que não andava de avião e riram-se quando pedi um lugar de "não-fumadora"; afinal agora são todos. Mesmo nos restaurantes não se vê assim tanta gente a fumar... A pressão social está a fazer o seu caminho. E acredito que uma lei tão severa tenho um efeito perverso: o fruto proibido é o mais apetecido, e pode haver quem a queira desafiar exactamente pela proibição.
Se calhar tenho sorte. Lembro-me de reuniões de trabalho de 15 pessoas, por exemplo, onde 2 ou 3 não fumavam e a sala parecia um aquário de fumo; hoje a percentagem inverteu-se são 2 ou 3 que necessitam fumar e vão para o corredor ou à varanda. Civilizadamente. Ninguém lhes ralha, e creio que não se sentem discriminados.
É que receio muito os fundamentalismos. E implicar com a liberdade de cada um. Isto anda tudo muito poluído, talvez devêssemos é andar de máscara como se vê muito no oriente. Assim já filtrava tudo - tabaco, tubos de escape, porcarias que andam por aí. Que tal lançar a moda? Um pouco paranóico, não?
M.L.
terça-feira, 30 de março de 2004
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