segunda-feira, 29 de março de 2004

Com amigos destes não há necessidade de inimigos

Eu não ouvi com os meus ouvidos. Limito-me a citar uma informação que outras pessoas, que considero fontes fieis, me fizeram chegar. E sobretudo, como conheço a senhora acredito piamente que ela disse exactamente o que me relataram. E os factos são estes:
Há pouco tempo, aquela figura inclassificável que dirige o Centro Aboim Ascensão lá no Algarve voltou a proferir umas declarações ao arrepio de tudo o que é justo e legal. Parece que lá no seu exemplar domínio, onde as criancinhas desamparadas recebem todo o conforto, mimo, e bens materiais se tropeça, apesar disso, num pequeno senão. Ali acolhe-se todos os meninos desde que ... sejam normais. Normais ???!
Estão a ver ? Criança com deficiência ou doença isso já é outro material, é melhor não se chegarem. Mas como o Sr. Major Vilas Boas já tinha revelado toda a sua capacidade de empatia com minorias, de sensibilidade, de actualização com os mais recentes dados científicos, dele já pouco me espantaria. Aliás foi muito interessante vê-lo na TV a “esquecer-se” de que anteriormente tinha sido entrevistado como “psicólogo” (!?) - daí o escândalo que as suas palavras motivaram - e passar a falar exclusivamente em lei. Parecia até muito entendido nessas artes. Entende-se, portanto, a excelente relação com a Presidente da Comissão de que faz parte, a Dra. Dulce Rocha.
Ora é exactamente a Dra. Dulce Rocha que me motiva o post de hoje.
O que me contaram é que, entrevistada pela TV, ( e esta senhora nunca perde uma ocasião de aparecer no pequeno ecran ) ela acudiu pressurosa em defesa do major Vilas Boas achando muito natural que se “defendessem” as outras crianças do tal Refúgio de uns contactos maléficos. Estou a imaginá-la na sua vozinha melada, a esclarecer que era natural proteger os outros meninos, coitadinhos, que podiam não se sentir bem ao pé de crianças com deficiência ou doentes. Ficavam logo contagiados com a deficiência, não é? Mas a Dra. Dulce é jurista, magistrada como refere muitas vezes, era curadora de menores portanto tudo isto são motivos para conhecer a Declaração de Salamanca que exactamente é muito explícita quanto à não-segregação de qualquer deficiência e Portugal assinou e comprometeu-se a cumpri-la! E, se não me falha a memória, esta senhora até foi há alguns anos, a presidente da Comissão Nacional dos Direitos das Crianças que tinha como maior função a defesa da Convenção dos Direitos da Criança Convenção essa que Portugal foi dos primeiros países a assinar e muito bem.
Esse documento, que a Dra. Dulce Rocha deve conhecer de cor e salteado, afirma, no artigo 23 exactamente o contrário do que diz a douta magistrada. Alguém anda muito distraído!
Ou, o que é mais provável, há teias tão preciosas e que nos podem levar tão alto que é muito melhor estar de bem com esses interesses do que estragar essa valiosa e protectora rede. Mesmo que quem assim se prejudique sejam as crianças. As tais que ela jurou proteger.
Mas proteger de quem?
M.L.

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