quarta-feira, 31 de março de 2004
Pintaínhos...?
O tema não é novo para mim, mas esta manhã ao ouvir na Antena 1 o Nicolau Santos e, vendo de novo um enorme engarrafamento à porta de uma escola, senti necessidade de o partilhar.
O Estado tem um papel importante de regulador das relações entre os cidadãos. Deve manter a ordem, evitar crimes entre as pessoas, apoiar os mais fracos, etc. Claro que nem todos temos as mesmas ideias sobre esse papel, e isso é nítido quando se defrontam conceitos de esquerda e direita. Mas há duas imagens que me inquietam:
o Estado-Polícia, e o Estado-Mamã.
Quanto ao primeiro, estamos entendidos, não vou acrescentar nada. Mas a que é que chamo Estado-Mamã? É quando somos protegidos "à força". Que os serviços públicos tenham a obrigação de avisar e prevenir de perigos possíveis parece-me pacífico. Mas o que é feito do livre-arbítrio de cada um? É que, com franqueza parece-me assistir a um movimento impressionante do desejo de envolver toda a gente em algodão em rama. Uma coisa que se aprende em pedagogia é que uma acção educativa só é eficiente quando é aceite "de dentro para fóra", é feita por se acredita no que se faz e não porque nos mandam.
Hoje o Nicolau Santos, a propósito da polémica do fumar, lembrou que os utensílios de madeira (colheres de pau, tábuas de bater bifes) tinham sido condenados por poderem transmitir germens. Eu sabia. Mas na casa de cada um continua a haver colheres de pau, eu respeito muito a ciência, mas não mandem na minha cozinha! Lá que é por bem, não tenho dúvida, mas cada um perante as informações tem de fazer a sua escolha pessoal. É que se corre o risco de perante uma chuva de excesso de informação, e muita dela, contraditória, não se ligar mesmo a nada! Está-se a infantilizar o cidadão, tratado como pintainho indefeso sob a asa protectora da galinha.
E é este modelo que se transmite aos miúdos. O tal constante engarrafamento que referi acima, veio lembrar-me os meus tempos de criança, quando aos 9/10 anos ia sozinha para a escola. Ia de transporte público, que eu morava no Areeiro e a escola era entre o Rato e o Príncipe Real. Acredito que me tornou mais responsável. E os meus pais não tinham de se ralar em me ir levar ou trazer, iam fazer o trabalho deles. Havia obrigações bem definidas e desde cedo éramos responsáveis pelos nossos actos e pelas nossas escolhas.
Estas crianças que vão para a escola no carro dos pais não se sabem, de facto, orientar sozinhas. É divertido não "terem tempo" para brincar entre eles, que é um exercício natural, porque essa é a hora de ir a um ginásio onde vão receber o estímulo que poderiam receber naturalmente e de graça.
Mundo cómico este, não é?
M.L.
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