quarta-feira, 24 de março de 2004

Cuidado com as generalizações...

A propósito de uma polémica assanhada, ontem no , BdEpor causa de um post infeliz do Filipe Moura, senti que cada vez tenho mais razão na cautela que costumo ter nas generalizações. Não estou completamente isenta desse pecado, é claro, mas faço muita força para que, conscientemente, não caia nele. Quanto mais velha, mais consciência tenho de que nunca se pode pensar ou dizer "todos os.[............] são assim, ou assado ". Não há nada, mas nada mesmo, que não tenha muitíssimas excepções e são sempre elas que nos caem em cima quando nos julgamos cheios de razão. Vou mesmo mais longe - só há uma afirmação que se pode generalizar, e estudei-a na lógica clássica : "Todos os homens são mortais". É a única! Claro que até aqui há excepções, mas só na literatura "Tous les hommes sont mortels" da Simone de Beauvoir, ou Orlando da Virgínia Woolf, mas na vida real essa generalização está, até ao momento, confirmada. E mais nada!
Claro que no calor de uma discussão nos salta sem querer, "os funcionários públicos são assim", "os emigrantes são assado", "os franceses isto", "os homossexuais aquilo", e mais "os políticos" e os "do norte" e os ... e os... e os...nunca mais acabam as gavetas/ ficheiros onde se enfia uma categoria de pessoas. Depois é claro que quanto maior fôr o grupo maior é a hipótese da asneira. Se calhar ao falar dos vizinhos do meu prédio, se eu disser que são "todos" qualquer coisa, tenho menos hipótese de errar, e mesmo assim... vá-se lá saber.
O caso que desencadeou estes pensamentos é dos mais complicados porque falar-se de "judeus" é falar de um grupo gigantesco, muito disperso, onde cabe mesmo tudo. Da política, às artes, à ciência, ao humor, há judeus fantásticos, há uns estupores e há uma multidão de gente completamente anónima que em nada se distingue de outro ser humano qualquer.
E tem graça pensar que os maiores de todos os grupos são os que na linguagem corrente mais sofrem de generalizações. Falo de Homens e Mulheres. Qual a mulher que não diz "Isso é mesmo de homem!", ou "todos os homens são iguais!"; qual o homem que não diz "é mesmo de gaja!" ou "isto só de mulher!". E o mais curioso é que estes desabafos quando ocorrem de um sexo para o outro, são sempre críticas. Mas se estivem com atenção reparem que, pelo contrário, na boca de uma mulher ouvir-se "só uma mulher para fazer isso..." então é mesmo um elogio! O ser humano é complicado, não é?
M.L.

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