sexta-feira, 19 de março de 2004

Homens e Máquinas

Ultimamente tenho utilizado bastante um novo serviço que o meu Banco inaugurou em benefício dos seus clientes. É um aparelhómetro, que além das funções das antigas Caixas Multibanco, também permite depositar cheques directamente, sem se preencher nenhum papel. Muito prático. E temos de reconhecer que rápido porque evita as bichas ao balcão. Assim, cada um trata de si e pode utilizá-lo segundo as suas conveniências, mesmo quando o Banco está fechado.
Mas vinha andando pela rua e a reflectir que se isto é um benefício deste ponto de vista, também é certo que diminui os encargos do Banco com pessoal. Estas máquinas, multiplicadas por todas as agências, podem significar despedir, ou não contratar, muitas pessoas que precisam de trabalhar. E este mundo cada vez é mais impessoal e já começa a ser quase alarmante a não-necessidade de contacto humano para as mais corriqueiras acções do dia a dia.
Quando as grandes superfícies substituíram as lojas de bairro, deixámos de pedir 1 quilo de arroz ou meia dúzia de ovos ao Sr.Manel, que nos conhecia e com quem conversávamos, para nos servirmos a nós mesmos e só trocar um rápido Bom Dia com a menina da caixa, cujo nome se sabe por estar escrito na bata, menina que varia com frequência.
Com a chegada do passe social e os módulos de transporte, desapareceu a figura do "pica-bilhetes" que, para além do motorista, nos acompanhava na viagem e vendia os bilhetes ali mesmo, na hora, picando a paragem para onde se seguia. Hoje, a picagem dos bilhetes é mecânica, feita por máquina.
Já se pode dizer que são a maioria, os cinemas cujos espectadores se arrumam sozinhos. O arrumador existe para verificar se trazemos bilhete e, por vezes, se chegamos já com o filme a decorrer, dá um jeitinho com a lanterna para nos descobrir um assento vago.
Podia continuar, mas acho que já chega para se ver onde quero chegar. Não sei nada de economia portanto acredito que tudo isto terá de ser, que é progresso, rentabilização das pessoas, etc. Mas é também uma desumanização do mundo. Como não é indispensável falarmos uns com os outros, ( temos as máquinas) vemos para aí gente a falar sozinha, a responder a um locutor que está a falar na televisão ou, por fim, a recorrer a um psicólogo quando a ansiedade é muita. Se calhar há que repensar algumas coisas.
M.L.

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