domingo, 21 de março de 2004

Sábado movimentado

Ontem tive um dia particularmente cheio e diversificado. Para além das indispensáveis actividades domésticas dos sábados de manhã, passei toda a tarde na manifestação e, mal tinha chegado a casa, telefonam-me a perguntar se quero aproveitar um bilhete a mais para o Ballet da Gulbenkian o que me deu apenas tempo de trocar de sapatos e chegar lá mesmo antes de fecharem as portas do auditório.
Quanto à manif não vale a pena falar. Durante o desfile cheguei a acreditar que as pessoas chegassem para encher a praça, mas quem lá esteve viu que de facto não chegaram. O momento mais quente e emocionante foi quando uns operários a trabalhar numas obras, mesmo do alto do prédio, acenaram e mostraram uns cartazes de apoio. Não podiam estar ali naquela altura, que tinham de ganhar a vida, mas apoiaram. E também foi interessante o leque de idades: muita gente de cabelos brancos, enrugada e cansada, e muitas cadeirinhas de bebés de olhos arregalados que obviamente não sabiam onde estavam mas os seus pais, jovens, sabiam. Contudo para quem esteve nas duas, a de há um ano atrás e a de ontem, é inegável que esta foi mesmo mais fraca. Não valia a pena tanta mobilização de raiva das forças de direita.
Mas o que motivou este post foi um pormenor da minha noite. O ballet foi interessante, embora eu não aprecie muito a música contemporânea. De uma forma geral gosto muito de arte moderna excepto a música; aí sou um bocado tradicional. Mas o bailado em si foi muito bom e valeu muito a pena a deslocação. O interessante, o tal pormenor que referi acima, foi o facto de os bailarinos não virem referenciados a não ser em bloco, e por ordem alfabética. Em cada bailado, o programa dizia quem era o coreógrafo, o cenógrafo, o figurinista, etc. mas nada de bailarinos. Numa página única estavam todos os seus nomes e as fotografias.
Eu fiz uma interpretação que não sei se está correcta. Se um bailarino nos marca, então fixamos a pessoa e pela foto encontramos o nome. Digamos que é o reconhecimento do mérito. Se, por acaso, ele não nos marcou, se não somos capazes de o identificar, então nem vale a pena conhecer o nome... Será isto? Se não é, podia ser.

M.L.

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