Que ser-se mulher hoje em dia, é ainda uma desvantagem social, já todos sabemos e estamos conversados. Na sociedade ocidental este “mal” tem melhorado muito, mas há muito ainda para melhorar. Mas hoje venho pregar o discurso inverso. É que exactamente nesta sociedade também há aspectos onde ser mulher é uma vantagem. E vou falar de algo muito simples que é a psicoterapia mais barata e simpática que existe: um cabeleireiro.
É o meu maior luxo.
Vou sempre que posso a um magnífico cabeleireiro, casa que já existia nos anos 40, onde ia a minha avó, e continua igual. No coração de Lisboa (Rua Garrett) mantém a decoração arte nova com que foi decorado inicialmente, os azulejos com rosinhas, as cadeiras “de barbeiro” extremamente confortáveis, os lavatórios de loiça antiga. E o ambiente ! Nunca ouvi ali criticar o trabalho de um colega ( do tipo “Oh, quem lhe fez esse corte?!” ou “Tem o cabelo estragado, onde é que tem ido?” como se ouve noutros locais), existe um clima de simpática boa disposição, respeitam os nossos desejos embora ofereçam soluções diferentes por vezes. As revistas são actualizadíssimas e de qualidade, muitas vezes apanhamos o Expresso ou Público que a dona tinha comprado para si mas nos empresta. Como sabem que sou cafédependente, enquanto seco o cabelo aparece muitas vezes uma chaveninha de café no meu colo. Percebe-se o que quero dizer? É um ambiente muito feminino no seu melhor.
E digo que é uma psicoterapia porque de facto nos ajuda. Voltamos a ser crianças, há quem cuide de nós fisicamente. Fazem-nos festinhas na cabeça, vestem-nos uma bata, tomam cuidado para não nos sujarmos nem ficarmos molhadas como fazia a nossa mãe. Põem um banquinho debaixo dos nossos pés, ligam o aquecedor se está frio, abrem a janela se está calor. Uma pessoa sente-se envolvida em mimo e é muito bom. E ainda por cima ficamos com melhor aspecto o que também é excelente. Uma pontinha de depressão é atenuada se ao olhar para o espelho ele nos mostrar uma cara mais composta e agradável, não é?
Claro que também ajuda ao bem-estar, dentro de uma impecável e correcta boa educação, “sentirmos” que ali falam a nossa língua do ponto de vista sócio-político. Encontro frequentemente as minhas amigas naquela casa, o que nos dá vontade de rir quando, saindo dali em momentos diferentes, encontramo-nos sem o ter combinado, lá em frente na “Ler devagar”... Dizemos uma para a outra – Tinha de ser!
É mesmo verdade. Afinal o ter-se nascido mulher é uma vantagem!
M.L.
sábado, 27 de março de 2004
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