terça-feira, 9 de março de 2004

Prós e Contras

Nem sempre oiço este programa da RTP. Começa tarde e acaba tardíssimo para as minhas horas normais de sono e, além disso, não aprecio a moderadora. Pertence aquela escola agressiva de inquirir as pessoas que, não sei se as incomoda a elas mas a mim que assisto, incomoda-me muito. Mas ontem abri uma excepção porque o tema me interessava muito e os participantes abriam o apetite. É claro que, dado a escolha dos participantes o tema não deveria ser “educação” e sim “novas famílias” e esse aspecto foi realçado quando as coisas começaram a aquecer por várias vezes.
Bem, vamos ao Vilas-Boas. Era uma das atracções como é óbvio, mas foi uma decepção. Sou suspeita, porque já aqui disse que sempre detestei o homem, mas ontem nem dava para detestar o suficiente. Deve ter ouvido tantas ou tão poucas que agora só falava de leis. Mas o homem não é militar? Não é “psicólogo”? Agora é jurista? A verdade é que jogou completamente à defesa, afinal não disse nada daquilo que disseram que ele disse! Tadinho! Bom, é certo que muitas vezes o que se diz retirado do contexto assume aspectos que parecem perfeitos disparates. Isso é frequente, mas a pessoa quando o nota imediatamente faz publicar um esclarecimento. Ainda muito recentemente se deu um caso destes com uma notícia da Lusa. Ora o Sr. Major não só não chamou a atenção como reforçou as suas declarações na TV. Só ontem veio com a conversa de que tinha sido outro o seu discurso. Batoteiro!
O Miguel Vale de Almeida estava ali por causa do major. Era óbvio. Se o tema fosse apenas educação, além da M.ª Emília Brederode e Eduardo Sá, deveria estar ou outro pedagogo ou na sociologia, dentro da sociologia da família. Claro que se o tema vier a ser “novas famílias” o painel já será mais correcto. Mas afinal, com tanta falta de luta pelo lado Vilas-Boas o discurso do Miguel teve de ser muito mais sereno. E foi. Vinha documentado, mas como a conversa não foi por ali, os temas ficaram apenas levantados.
O que achei completamente extraordinário foi a escolha das famílias, representativas. Gostei mesmo muito que, como família monoparental, viesse um pai e uma filha. E um pai excelente. Pareceu-me uma muito boa escolha, mas ficou a faltar a mãe com um ou vários filhos. Acho que havia espaço para os dois casos, e devemos reconhecer que é muito mais frequente a monoparentalidade ser representada pela mãe e filhos. Também foi correcto (até pela polémica recente) a presença de uma família homossexual. E aquela mostrou-se uma boa mãe, dificilmente se lhe poderia apontar qualquer coisa. Faltou contudo a representação de algo, frequentíssimo, que é a família “reconstruída”. É talvez, estatisticamente, o mais vulgar, haver filhos de um primeiro e um segundo casamento – onde estavam eles?
Agora o que foi delicioso foi a escolha da “família tradicional”. Calculo que a produção do programa é anti-família- tradicional. Só pode. E não poderia ter feito melhor trabalho. É que “aquilo” é inacreditável em 2004. Vamos ver:
Obviamente de um meio social bem elevado. Marido de profissão liberal, encontra a mulher na faculdade e casam. Ela com um curso superior rigorosamente igual ao dele, arruma a sua formação e dedica-se a ser a fada do lar. Começam a ter filhos. Até ao momento 3, mas ainda são jovens ele afirma, com um sorriso significativo, que esperam ter muitos mais. Ele falou todo o tempo de antena enquanto a mulher sorria e abanava a cabeça. Aparentemente nem lhes passa pela cabeça que os anos em que ela andou a estudar poderiam ter sido melhor aproveitados. Talvez um curso de puericultura, ou ciências domésticas... O modelo que transmitiram chegava a ser engraçado, de tão antiquado era. Quantas famílias encontramos em Portugal representadas por aqueles dois? Só para rir.
Quanto á Educação que era o motivo do programa, deve ficar para outro programa... Falou um professor e um aluno, o primeiro dizendo coisas um pouco controversas. A Mª Emília argumentou bastante bem em relação a alguns comentários de César das Neves que não se vê bem a que título ali estava. Eduardo Sá tentou sempre levantar a bandeira do bom senso e tolerância familiar. Enfim um debate a prosseguir depois desdobrando o “dois em um” – um sobre Novas Famílias, e outro sobre Educação

M.L.

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