Olho por olho? Mas de quem são os olhos?
Desde a notícia da morte do Sheik Yassin que, como de costume, quer na imprensa quer aqui na blogosfera as opiniões se dividiram imediatamente em dois blocos antagónicos. E cada um, ainda a notícia não tinha sido completamente ouvida já tomava posições inteiramente radicalizadas. Sobretudo a ala direita disse logo: Era do Hamas, era um terrorista, muito bem feito! e, pelos vistos, até pessoas que costumavam pensar primeiro antes de falar alinharam pelo mesmo diapasão.
Isto a mim, faz-me confusão. É certo que também tenho a palavra fácil, e nem sempre recolho toda a informação possível antes de dar a minha opinião um pouco no ar. Mas este é um caso onde me parece que as implicações são tantas que se lhe deve tocar com a maior cautela. E desde já aviso que estou a dar a minha opinião, mas ela está sujeita a, ao pensar melhor, vir a alterá-la um pouco.
Mas o que me parece é que este não foi um acto de retaliação simples. Tipo "Mata-se o bicho, acaba a peçonha!" Esta é uma acção política e muito séria. E o pensar que este acto em si foi um erro não significa que se tenha muita pena da criatura, que por fim teve mesmo a morte que desejava. Que sorte a dele! Só que há muita coisa para entender. Pelo que tenho lido por aí, este homem já esteve preso nas cadeias israelitas e "foi trocado" por uns prisioneiros considerados importantes. Nessa altura podiam tê-lo julgado pelos seus crimes e até segundo a lei, creio que executá-lo. Mas não o fizeram. Para mim os tribunais servem mesmo para julgar as pessoas, existiu Nurenberg e "parece" haver um T.P.I. Mas nessa altura isso foi esquecido e o homem foi útil como moeda de troca.
Mas não. Esperaram a saída de um acto religioso, e onde ele estava rodeado de pessoas para, do ar sem grande risco para os executantes, o matarem a ele e aos acompanhantes. Aparentemente queriam fazer um mártir. Ou se não queriam então foi um erro de palmatória. Passa pela cabeça de alguém que aqueles jovens, educados para serem kamikases, vão ficar amedrontados com isto? Não será previsível que, exactamente com esta acção, fiquem cheios de um fervor religioso e intensifiquem brutalmente esses atentados?
Não percebo nada de estratégias de guerra, mas o meu bom senso levanta algumas questões
- com o poderio militar utilizado não seria possível mais simplesmente prender o homem?
- Mesmo que ele resistisse à prisão não seria menos chocante para os seus apoiantes que ele morresse nessa luta do que assim, a sangue frio?
- Acreditando na valentia israelita e que não têm medo das represálias parece correcto ir por em risco a vida de tanta gente com este gesto de desafio?
Mais uma vez repito que não tenho particular pena do Sheik e acho que lhe fizeram um favor. Mas temo o efeito de boomerang.
M.L.
quarta-feira, 24 de março de 2004
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