quarta-feira, 31 de março de 2004

Correr riscos

Como achega ao post mais atrás, "Pintainhos", encontrei um FW mais ou menos esquecido que não resisto a copiar para aqui. Não sei quem o escreveu, mas ao circular como FW tornou-se público! Estes pintos já não são Kalimeros
Para quem já tem mais de 22 anos... faz pensar que até tivemos sorte...
Olhando para trás, é difícil acreditar que estejamos vivos.
Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou air bag. Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em frascos de remédios, portas, ou armários e andávamos de bicicleta sem capacete, sem contar que pedíamos boleia. Bebíamos água directamente da mangueira e não da garrafa.
Gastámos horas a construir os nossos carrinhos de rolamentos para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que nos tínhamos esquecido dos travões. Depois de colidir com algumas árvores, aprendemos a resolver o problema. Saíamos de casa de manhã, brincávamos o dia inteiro, e só voltávamos quando se acendiam as luzes da rua.
Ninguém nos podia localizar. Não havia telemóveis.
Nós partimos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os culpados. Eram acidentes. Ninguém para culpar, só a nós próprios.
Tivemos brigas e esmurramos uns aos outros e aprendemos a superar isto.
Estávamos sempre ao ar livre, a correr e a brincar. Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu por causa disso.
Não tivemos Playstations, Nintendo 64, vídeo games, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, surround sound, telemóveis, computadores ou Internet.
Nós tivemos amigos. Nós saíamos e íamos ter com eles. Íamos de bicicleta ou a pé até casa deles e batíamos à porta. Imaginem tal coisa! Sem pedir autorização aos pais, por nós mesmos! Lá fora, no mundo cruel!
Sem nenhum responsável! Como conseguimos fazer isto?
Fizemos jogos com bastões e bolas de ténis e comemos minhocas e, embora nos tenham dito que aconteceria, nunca nos caíram os olhos ou as minhocas ficaram vivas na nossa barriga para sempre.
Nos jogos da escola, nem toda a gente fazia parte da equipa. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção... Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Que horror! Não inventavam testes extras.
Éramos responsáveis por nossas acções e arcávamos com as consequências.
Não havia ninguém que pudesse resolver isso. A ideia de um pai nos protegendo, se desrespeitássemos alguma lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis! Imaginem!
A nossa geração produziu alguns dos melhores compradores de risco, criadores de soluções e inventores. Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas ideias. Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e esponsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.

Claro que isto não pretende ser uma crítica aos jovens actuais, até porque quem os educa são os pais, mas a verdade é que certos riscos, paradoxalmente, ajudam à segurança.
M.L.

"A minha política é o trabalho"

Apesar de já ter as minhas ideias sobre o assunto, esta notícia do D.N. veio confirmar as minhas convicções. Com honrosas excepções dos "jotinhas" dos partidos, e muitos jovens que se envolvem em movimentos anti-globalização, ou de algum modo pacifistas, a verdade é que a juventude, e não só a portuguesa, parece desacreditar no instrumento base da democracia que é o voto popular. De uma forma geral, segundo a expressão popular "não sabem, não querem saber e têm raiva a quem souber". Transmitem a ideia de que a política "é suja", os políticos têm inúmeros defeitos ( como se as outras profissões os não tivessem) e sobretudo não há nada a fazer, o melhor é afastarem-se e ignorarem esse mundo esquisito e aborrecido. Quando se lhes diz, que essa atitude também é uma atitude política ficam furiosos e nem se consegue explicar o nosso ponto de vista. Já estou fartinha de ter passado por isso...
Só à minha volta estou a lembrar-me de 4 casos, e em famílias onde o modelo não é esse. Um jovem muito inteligente, num ano adiantado de engenharia informática estranhou que a manifestação de 20 de Março pudesse não ter autorização. "Mas é preciso autorização? Isso era antes do 25 de Abril!"; outro, também muito inteligente, interessado por muitas coisas e a terminar um curso de realização de cinema, "não teve tempo para se recensear"
Às vezes, por maldade vem-me à cabeça, a ideia de se alterar a idade de 18 para 25. Eles dariam conta? Tanto imagino que começavam a protestar e aí se interessavam como, o provável, é que nem dessem por isso. A sua política pode "não ser o trabalho", mas são obviamente outros interesses que não passam pela intervenção social.
M.L.

Pintaínhos...?


O tema não é novo para mim, mas esta manhã ao ouvir na Antena 1 o Nicolau Santos e, vendo de novo um enorme engarrafamento à porta de uma escola, senti necessidade de o partilhar.
O Estado tem um papel importante de regulador das relações entre os cidadãos. Deve manter a ordem, evitar crimes entre as pessoas, apoiar os mais fracos, etc. Claro que nem todos temos as mesmas ideias sobre esse papel, e isso é nítido quando se defrontam conceitos de esquerda e direita. Mas há duas imagens que me inquietam:
o Estado-Polícia, e o Estado-Mamã.
Quanto ao primeiro, estamos entendidos, não vou acrescentar nada. Mas a que é que chamo Estado-Mamã? É quando somos protegidos "à força". Que os serviços públicos tenham a obrigação de avisar e prevenir de perigos possíveis parece-me pacífico. Mas o que é feito do livre-arbítrio de cada um? É que, com franqueza parece-me assistir a um movimento impressionante do desejo de envolver toda a gente em algodão em rama. Uma coisa que se aprende em pedagogia é que uma acção educativa só é eficiente quando é aceite "de dentro para fóra", é feita por se acredita no que se faz e não porque nos mandam.
Hoje o Nicolau Santos, a propósito da polémica do fumar, lembrou que os utensílios de madeira (colheres de pau, tábuas de bater bifes) tinham sido condenados por poderem transmitir germens. Eu sabia. Mas na casa de cada um continua a haver colheres de pau, eu respeito muito a ciência, mas não mandem na minha cozinha! Lá que é por bem, não tenho dúvida, mas cada um perante as informações tem de fazer a sua escolha pessoal. É que se corre o risco de perante uma chuva de excesso de informação, e muita dela, contraditória, não se ligar mesmo a nada! Está-se a infantilizar o cidadão, tratado como pintainho indefeso sob a asa protectora da galinha.
E é este modelo que se transmite aos miúdos. O tal constante engarrafamento que referi acima, veio lembrar-me os meus tempos de criança, quando aos 9/10 anos ia sozinha para a escola. Ia de transporte público, que eu morava no Areeiro e a escola era entre o Rato e o Príncipe Real. Acredito que me tornou mais responsável. E os meus pais não tinham de se ralar em me ir levar ou trazer, iam fazer o trabalho deles. Havia obrigações bem definidas e desde cedo éramos responsáveis pelos nossos actos e pelas nossas escolhas.
Estas crianças que vão para a escola no carro dos pais não se sabem, de facto, orientar sozinhas. É divertido não "terem tempo" para brincar entre eles, que é um exercício natural, porque essa é a hora de ir a um ginásio onde vão receber o estímulo que poderiam receber naturalmente e de graça.
Mundo cómico este, não é?
M.L.

terça-feira, 30 de março de 2004

Fumar ou não fumar

Não sei se alguém se lembra de dois filmes franceses ( ou podemos considerar um, “duplo” ? ) que passaram já há uns anos nos nossos cinemas, chamados, exactamente, um deles "Fumar" e o outro "Não Fumar". Era quase um exercício de estilo, uma história contada e recontada por diversas personagens sob o seu exclusivo ponto de vista. No filme "Fumar" toda a gente fumava. No filme "Não fumar" a história era rigorosamente igual mas ninguém fumava. Creio que o filme era do Resnais, mas já não vou jurar. Era leve, engraçado e nada tonto porque o que demonstrava era a enorme subjectividade com que se encara o grosso dos acontecimentos que nos rodeiam, a história era um caleidoscópio de opiniões.
Quando ontem ouvi a notícia sobre a lei irlandesa a propósito do tabaco, tive a certeza de que iria dar faísca por aqui na blogosfera. Era óbvio e os cerca de 80 comentários num post do Barnabé vieram logo confirmar esta previsão. Não fui lá comentar, já o tinha feito mais atrás quando o assunto tinha sido anteriormente abordado, e havia ali pano para muitas mangas mesmo sem a minha ajuda. Mas, não resisto a dar também opinião.
Não sei se interessa ao caso, mas não fumo. O meu vício é mais o café. Mas sou bastante tolerante com quem o faz, não me incomoda sentir um ou dois cigarros acesos na sala onde estou. E ainda por cima, graças a todas estas campanhas, a minha experiência pessoal é que os fumadores estão muito mais comedidos. Uma nota interessante é que se pode situar um filme no tempo pelo facto das personagens andarem ou não de cigarro na mão. Hoje, uma pessoa tira um maço e a cortesia manda perguntar "Não te incomoda?", há umas dezenas de anos, era-o tirar o maço e oferecer. Creio que é sintomático.
É claro que tudo o que é proibido gera logo anti-corpos a desafiar. E o que eu sinto é que "não havia necessidade" como diria o nosso diácono. O caminho tem-se feito, lentamente talvez, mas no mesmo sentido. Hoje achamos natural não se fumar nos cinemas, mas antigamente fumava-se e muito. Hoje não se fuma em transportes públicos, mas é coisa recente. Já há uns anos que não andava de avião e riram-se quando pedi um lugar de "não-fumadora"; afinal agora são todos. Mesmo nos restaurantes não se vê assim tanta gente a fumar... A pressão social está a fazer o seu caminho. E acredito que uma lei tão severa tenho um efeito perverso: o fruto proibido é o mais apetecido, e pode haver quem a queira desafiar exactamente pela proibição.
Se calhar tenho sorte. Lembro-me de reuniões de trabalho de 15 pessoas, por exemplo, onde 2 ou 3 não fumavam e a sala parecia um aquário de fumo; hoje a percentagem inverteu-se são 2 ou 3 que necessitam fumar e vão para o corredor ou à varanda. Civilizadamente. Ninguém lhes ralha, e creio que não se sentem discriminados.
É que receio muito os fundamentalismos. E implicar com a liberdade de cada um. Isto anda tudo muito poluído, talvez devêssemos é andar de máscara como se vê muito no oriente. Assim já filtrava tudo - tabaco, tubos de escape, porcarias que andam por aí. Que tal lançar a moda? Um pouco paranóico, não?
M.L.

Confissão de Ignorância

Oiço agora na rádio que a Nato foi alargada a mais 7 países e sentia-se que com bastante gáudio de quem o estava a comentar. Fico perplexa. Lembrava-me que esta organização militar tinha sido criada após a última Grande Guerra para servir de tampão ao alastramento do movimento comunista. Caiu o Muro de Berlim e essa tal ameaça, que se note, não parece já existir. O que alastra é a própria Nato. E para que é que serve? Engloba agora quase toda a Europa e os E.U. Vai defender-nos de uma ameaça, parece. Qual? Do terrorismo não, pelo que já se viu, não é essa a sua vocação. Quererá dizer que se a Coreia do Norte nos atirar com uma bomba atómica a Nato abre um guarda-sol anti-bomba? Talvez também não seja bem isso. Tenho uma ideia que para resolver conflitos, no ovo, antes de sairem da casca, havia a O.N.U. e a diplomacia. Devo reconhecer que minha ignorância é grande e cada vez mais aquilo me parece um grupo de meninos a brincar aos soldadinhos. O pior é que é um brinquedo bastante caro, em tempo de enormes dificuldades económicas - fala-se em crise - e onde o dinheiro para políticas sociais anda bastante arredado. Deve ser por isso que o Dr. Portas anda agora recrutar rapazes para as Forças Armadas - é para combater o desemprego. Lá vai servir para alguma coisa.
Mas isto sou eu a pensar, que não entendo nada disto.

M.L.

segunda-feira, 29 de março de 2004

Com amigos destes não há necessidade de inimigos

Eu não ouvi com os meus ouvidos. Limito-me a citar uma informação que outras pessoas, que considero fontes fieis, me fizeram chegar. E sobretudo, como conheço a senhora acredito piamente que ela disse exactamente o que me relataram. E os factos são estes:
Há pouco tempo, aquela figura inclassificável que dirige o Centro Aboim Ascensão lá no Algarve voltou a proferir umas declarações ao arrepio de tudo o que é justo e legal. Parece que lá no seu exemplar domínio, onde as criancinhas desamparadas recebem todo o conforto, mimo, e bens materiais se tropeça, apesar disso, num pequeno senão. Ali acolhe-se todos os meninos desde que ... sejam normais. Normais ???!
Estão a ver ? Criança com deficiência ou doença isso já é outro material, é melhor não se chegarem. Mas como o Sr. Major Vilas Boas já tinha revelado toda a sua capacidade de empatia com minorias, de sensibilidade, de actualização com os mais recentes dados científicos, dele já pouco me espantaria. Aliás foi muito interessante vê-lo na TV a “esquecer-se” de que anteriormente tinha sido entrevistado como “psicólogo” (!?) - daí o escândalo que as suas palavras motivaram - e passar a falar exclusivamente em lei. Parecia até muito entendido nessas artes. Entende-se, portanto, a excelente relação com a Presidente da Comissão de que faz parte, a Dra. Dulce Rocha.
Ora é exactamente a Dra. Dulce Rocha que me motiva o post de hoje.
O que me contaram é que, entrevistada pela TV, ( e esta senhora nunca perde uma ocasião de aparecer no pequeno ecran ) ela acudiu pressurosa em defesa do major Vilas Boas achando muito natural que se “defendessem” as outras crianças do tal Refúgio de uns contactos maléficos. Estou a imaginá-la na sua vozinha melada, a esclarecer que era natural proteger os outros meninos, coitadinhos, que podiam não se sentir bem ao pé de crianças com deficiência ou doentes. Ficavam logo contagiados com a deficiência, não é? Mas a Dra. Dulce é jurista, magistrada como refere muitas vezes, era curadora de menores portanto tudo isto são motivos para conhecer a Declaração de Salamanca que exactamente é muito explícita quanto à não-segregação de qualquer deficiência e Portugal assinou e comprometeu-se a cumpri-la! E, se não me falha a memória, esta senhora até foi há alguns anos, a presidente da Comissão Nacional dos Direitos das Crianças que tinha como maior função a defesa da Convenção dos Direitos da Criança Convenção essa que Portugal foi dos primeiros países a assinar e muito bem.
Esse documento, que a Dra. Dulce Rocha deve conhecer de cor e salteado, afirma, no artigo 23 exactamente o contrário do que diz a douta magistrada. Alguém anda muito distraído!
Ou, o que é mais provável, há teias tão preciosas e que nos podem levar tão alto que é muito melhor estar de bem com esses interesses do que estragar essa valiosa e protectora rede. Mesmo que quem assim se prejudique sejam as crianças. As tais que ela jurou proteger.
Mas proteger de quem?
M.L.

domingo, 28 de março de 2004

A França Cor-de-rosa

Acabo de ouvir as notícias sobre os resultados eleitorais em França. Fui espreitar
ao Le Monde e confirmava-se o que acabava de ouvir. É claro que não dá para embandeirar em arco, mas parece que a maré está a mudar.
Estou á espera de ouvir um coro de vozes a esclarecer que eram APENAS regionais, etc, etc. Sei muito bem que são regionais. Também me lembro que foi com um resultado destes que o PS se foi embora...
Que as regiões onde a vitória foi de esquerda estejam em cor-de-rosa, já é simpático, mas do que gosto mesmo é ver as outras em cinzento! É que é uma não-côr, cinzento é o tom exacto. Hoje vou dormir melhor.
M.L.

Barnabé no seu melhor


Desculpem, porque de certo quem passa por aqui já passou antes pelo Barnabé, blog de referência. Mas eu achei tanta graça, mas mesmo tanta a
esta observação que não quero que a percam. Quem ainda lá não foi , vá lá rir um pouco.
E quem diz que o humor não é uma arma?
Mortífera!!!
Mas é mortífera quando usada com inteligência e quando tem de facto graça.

M.L.

Ora chega, chega, chega, ora arreda lá p’ra trás





Na Primavera e Outono temos uma dança das horas especial. Costumamos refilar, o refilanço faz parte da nossa natureza, mas a verdade é que estamos acostumados e ano onde isto falhasse toda a gente ia estranhar e os protestos seriam ao contrário. No tempo do Cavaco houve uma alteração que caiu muito mal! Tão mal que não se repetiu.
Também já se sabe que, quer atrase quer adiante, nunca agrada ( ou desagrada ) a todos. Quando há mais luz de manhã, gostam os que se têm de levantar cedo e custa tanto saltar da cama com noite escura... Dizemos que “é outra coisa”, um raiozinho de sol de manhã dá outro gosto à vida! Mas como o tempo não estica, nessa altura também passa a anoitecer mais cedo o que põe de mau humor outra fatia de portugueses. Só um parêntesis, que se o tempo não estica muitas vezes parece que encolhe!
Hoje, Domingo, caminhamos ao contrário. Vamos acordar com menos luz, mas também para compensar vai anoitecer “mais tarde”. Isto merece aspas porque o que tem graça é que anoitece e amanhece sempre na mesma altura: quando o sol se levanta ou se põe. A natureza é muito regular e certinha, os homens é que têm manias! O que dança são os nossos relógios, uma invenção do homem. É a mais pura das convenções.
Contudo, segundo essa tal natureza, é bem verdade que as horas de luz vão aumentando daqui para a frente. Para os amantes da noite pode ser uma perca, mas eu confesso que adoro as tardes enormes, as horas do entardecer que parecem arrastar-se numa grande preguiça, onde parece haver tempo para tudo. Viva a luz, aleluia vem aí o Verão.
M.L.

sábado, 27 de março de 2004

Partilha de Tarefas

Lido numa redacção infantil sobre definição de papeis numa família bastante tradicional:

"Um casal é formado na maior parte dos casos por um papá e uma mamã ou o inverso. Em geral um papá é mais inteligente, mas é a mamã que faz os bebés, o papá não tem tempo para isso…
Muitas vezes as tarefas são partilhadas: o papá deita-se primeiro, a mamã levanta-se primeiro. Como ela não precisa de fazer a barba, a mamã pode, durante esse tempo, preparar o pequeno almoço.
Embora o papá saiba cozinhar coisas muito boas, é a mamã que cozinha todos os dias. Mas por outro lado a mamã sabe melhor lavar a loiça e portanto é ela que a lava. O papá sabe melhor ler o jornal: portanto é ele que o lê. Ele não entende nada de crianças, portanto é ela que trata disso. Mas ela não entende nada de futebol, e portanto é o papá que assiste."
E viva a mamã!

M.L.

Solidariedade blogueira

Uma confissão pública: a internet ainda há muito pouco tempo era um mistério para mim. Bom, era e ainda é... Sou é atrevida e tenho sorte. Vou experimentando e às vezes consigo coisas. Contudo, estas coisas de links e imagens, metiam-me algum... digamos que receio. Mas lembrei-me de uma colega da blogosfera que se tinha mostrado simpática e atrevi-me a pedir-lhe ajuda. Foi a Sara de um blog que costumo visitar, e mesmo sem a conhecer mandei-lhe um S.O.S.
Impecável. Deu-me as indicações todas e acho que estou a conseguir. Não lhe posso oferecer nada de especial mas este por do sol é para ela com toda a minha gratidão!



Muito OBRIGADA, Sara.

M.L.

Das vantagens de ser-se mulher

Que ser-se mulher hoje em dia, é ainda uma desvantagem social, já todos sabemos e estamos conversados. Na sociedade ocidental este “mal” tem melhorado muito, mas há muito ainda para melhorar. Mas hoje venho pregar o discurso inverso. É que exactamente nesta sociedade também há aspectos onde ser mulher é uma vantagem. E vou falar de algo muito simples que é a psicoterapia mais barata e simpática que existe: um cabeleireiro.
É o meu maior luxo.
Vou sempre que posso a um magnífico cabeleireiro, casa que já existia nos anos 40, onde ia a minha avó, e continua igual. No coração de Lisboa (Rua Garrett) mantém a decoração arte nova com que foi decorado inicialmente, os azulejos com rosinhas, as cadeiras “de barbeiro” extremamente confortáveis, os lavatórios de loiça antiga. E o ambiente ! Nunca ouvi ali criticar o trabalho de um colega ( do tipo “Oh, quem lhe fez esse corte?!” ou “Tem o cabelo estragado, onde é que tem ido?” como se ouve noutros locais), existe um clima de simpática boa disposição, respeitam os nossos desejos embora ofereçam soluções diferentes por vezes. As revistas são actualizadíssimas e de qualidade, muitas vezes apanhamos o Expresso ou Público que a dona tinha comprado para si mas nos empresta. Como sabem que sou cafédependente, enquanto seco o cabelo aparece muitas vezes uma chaveninha de café no meu colo. Percebe-se o que quero dizer? É um ambiente muito feminino no seu melhor.
E digo que é uma psicoterapia porque de facto nos ajuda. Voltamos a ser crianças, há quem cuide de nós fisicamente. Fazem-nos festinhas na cabeça, vestem-nos uma bata, tomam cuidado para não nos sujarmos nem ficarmos molhadas como fazia a nossa mãe. Põem um banquinho debaixo dos nossos pés, ligam o aquecedor se está frio, abrem a janela se está calor. Uma pessoa sente-se envolvida em mimo e é muito bom. E ainda por cima ficamos com melhor aspecto o que também é excelente. Uma pontinha de depressão é atenuada se ao olhar para o espelho ele nos mostrar uma cara mais composta e agradável, não é?
Claro que também ajuda ao bem-estar, dentro de uma impecável e correcta boa educação, “sentirmos” que ali falam a nossa língua do ponto de vista sócio-político. Encontro frequentemente as minhas amigas naquela casa, o que nos dá vontade de rir quando, saindo dali em momentos diferentes, encontramo-nos sem o ter combinado, lá em frente na “Ler devagar”... Dizemos uma para a outra – Tinha de ser!
É mesmo verdade. Afinal o ter-se nascido mulher é uma vantagem!
M.L.


sexta-feira, 26 de março de 2004

Causa e Efeito

Parece que na nossa terra se casa menos. Menos do que dantes pelo menos, porque não sei bem qual o termo de comparação, se também é com outras paragens. Mas, pelo que li, os dados dizem que se registam menos casamentos
Li-o por aqui.(vamos ver se desta vez o link fica certo, que às vezes sai-me o tiro ao lado) Bom, casa-se menos. Contudo, honestamente, o amor não me parece em baixa, se olharmos à nossa volta tropeçamos constantemente em casalinhos a mostrar efusivamente o que lhes vai na alma. Mas então porque é que não casam? Para além do aspecto também conhecido do aumento das uniões de facto, casamento sem contrato escrito, há ainda muitos jovens que continuam uns namoros muito prolongados pelo facto tão elementar de não conseguirem pagar uma habitação para si próprios.
Tenho uma jovem amiga que "tem a sorte" de ter um emprego e o namorado também é um bom profissional e também tem emprego estável. Procuram uma casa, e imagine-se o civismo ( ! ) queriam num local com transportes razoáveis para evitar andar de carro. Têm andado por todo o lado sem nada lhes agradar muito. Recentemente tinham ficado mais animados porque lhes falaram de um empreendimento da EPUL que ia a licitação. Bom, pensaram, inocentes, se é da EPUL é natural que já seja mais acessível, vamos lá espreitar. Ontem falou-me. Só para rir, é claro! O T1 mais barato tinha licitamento de base de 40.000 contos; outro ainda T1, já andava pelos 60.000contos. Se este casal pensar ter filhos teriam que pensar era num T2 não é? Estamos mesmo a brincar... Já se imaginou o que é 60.000 contos de base ? Claro que podemos pensar "Quem quer luxos, paga-os!", mas atenção, isto é da EPUL. A vocação da EPUL não era fazer equipamentos para a alta burguesia, que eu soubesse.
Ainda dizem, e com razão, que hoje os jovens saem de casa dos pais cada vez mais tarde. Pudera. Mas sair para onde? Tudo indica que não será nos meses mais próximos que vou visitar a Dulce e o João no seu espaço próprio !
M.L.

Causas Naturais

Acabo de ler aqui esta notícia que me deixa muito perplexa. Mas... o quê, causas naturais??? Uma construção cai por causas naturais? Parece-me que ainda existem pontes romanas que estão de pé! Nem o tempo é uma "causa natural" e esta até era uma ponte recente. Se calhar estou enganada, mas tanto quanto me lembro, acho que na altura até "caiu" um ministro por causa dessa fatal ponte. O governo do PS teve a vergonha suficiente para assumir até erros dos quais não tinha uma culpa directa. Tinha culpa porque era governo, é claro, e não se podia por de fóra. Mas hoje em dia leio coisas que tenho de voltar a reler por não acreditar à primeira. Neste caso , que já tinha comentado mais abaixo, pode haver meandros processuais que um leigo em direito não entenda. Mas uma coisa é Direito como ciência, outra coisa é o que é justo e direito como moral. A culpa, ou se quisermos, a responsabilidade, tem de ser de alguém. Ela pode não querer casar, mas por favor solteira não fique. Pede-se uma união de facto, por favor!
M.L.

quinta-feira, 25 de março de 2004

Dois modos de olhar a lei

Sem querer voltar à discussão da morte do Sheik Yassin não posso deixar de pensar como há mesmo dois modos de pensar e duas civilizações. Que distância!!! Acabei de ler aqui em
Tribunais e Estados de Direito Democrático uma referência a um modo de tratar um criminoso que me parece normal. Há um crime, há um julgamento, e há uma condenação. Mas será que os suecos têm uns genes tão diferentes de grande parte da humanidade como isso? O que é necessário para se atingir aquele modo de pensar e aquela dignidade? Enfim, quero ser optimista e pensar que dentro de sabe-se quanto tempo mas algum dia, a humanidade terá aquela serenidade.
M.L.

Humor Negro

Todos conhecemos expressões que, porque são idiomáticas, se levadas à letra fica uma patetice. Isso torna-se muito evidente quando se traduz para outra língua uma dessas expressões. E, nessa linha de pensamento, ainda há momentos apanhei no ar uma conversa que se tornava perfeitamente cómica. Uma senhora dum quiosque de jornais conversava com um cego total, de bengala, óculos pretos e com uma postura que indicava ser completamente cego. Perguntava-lhe se tinha arranjado casa, pelo que percebi. Resposta: " Ná... Ainda não! Tenho ali uma em vista, mas ...." e a outra lá o incitava : "Mas vá vendo mais!"
Fazia todo o sentido essa busca, é claro, mas bolas se o homem era cego ! ! !


M.L.

O meu negócio NÃO são números....

Entre algumas visitas que naturalmente vou fazendo aqui pela blogosfera, ritual quase diário que creio que todos fazemos, encontrei alguém que "festejava" o centésimo post. Pareceu-me um bonito e redondo número, escrevi qualquer coisa simpática na caixa de comentários e fiquei-me a pensar em quantos teria eu própria escrito.
Bom, de curiosidade espevitada, decidi-me a contá-los. Oh surpresa! Já há dias que passei os tais cem! E sem contar com alguns que apaguei por não ter conseguido fazer os links que queria e dariam sentido ao texto. Aqui, em casa emprestada por simpático senhorio que não cobra renda nem me critica nada ( o blog é dele, não o esqueçamos....) como tenho mantido uma escrita regular isto foi-se acumulando. Ri-me sozinha, de espanto. Ele há cada uma...
Porque, já que me sinto em maré de confidências, o meu trabalho até é muito intenso e absorvente mas não tem mesmo nada a ver com informática, nem jornalismo, nem política, nem qualquer tipo de informação. Nem sequer tenho net ligada no local de trabalho! Este blog é a minha válvula de escape. Acho que comecei a escrever aqui porque o que queria dizer, muitas vezes, não cabia bem nas caixas de comentários dos meus blogs favoritos. Isto, mal comparado, para mim era como que uma Caixa de Comentários king size e sempre às minhas ordens. Mas depois uma coisa puxa outra e às tantas, exigente, lá fui pedir ao senhorio se me criava uma caixa de comentários a sério, também aqui. Super-simpático, fez-me a vontade e apareceu logo o "atira-lhe um osso" que de vez em quando recebe de facto uns ossos e até com alguma carne agarrada. Todos sabemos que isso dá muito prazer, porque é a prova material de que alguém passou por aqui e se deu ao trabalho de ler o que escrevemos.
E, aqui para nós, esse é o ponto que verdadeiramente conta. Se me "colocar no meu lugar" como se costuma dizer para tirar o pó aos convencidos, o que devia mesmo contar eram só esses comentários, porque quanto ao resto poderia ser um exercício de umbiguismo. E comentários mesmo, se calhar nem um dúzia tenho. Flop,... lá venho eu por aí abaixo. Bem feita, para não me pôr com contagens, que já disse mesmo que o meu negócio não são números.

M.L.

quarta-feira, 24 de março de 2004

Sentenças insensatas

Li ontem uma local no Público, e mais tarde assisti a uma reportagem na Sic, sobre o resultado do julgamento de um agente da polícia que matou um jovem no Bairro da Bela Vista. Esta notícia deu origem a um post no Barnabé com dezenas e dezenas de comentários. Há para ali muita coisa que me deixa perplexa. Entre os tais comentários muitos deles inseriam-se numa mesma linha. Sumariamente diziam:
"Vocês não sabem do que estão a falar porque não dominam a matéria em causa; não são de direito" ou
"O tipo era um facínora o polícia defendeu-se e fez muito bem" ou
"Não podemos acreditar no que se diz nos jornais, só se podia ter opinião se tivéssemos estado no tribunal"
Bem, vamos partir do princípio que os media servem para informar. Muitas vezes informam mal, mas a verdade é que ainda é a fonte que todos temos. O cidadão comum não pode ir à origem da notícia ( e mesmo então também se pode enganar...) Analisando essa notícia o que se vê é que um cidadão representando a autoridade e armado, abateu outro cidadão. Tão simples como isso. A desculpa, ou uma das desculpas, do assassino foi de que não sabia que "aquilo" podia matar. E é isso que nos faz pasmar. Que haja polícias armados com armas que desconhecem e que o tribunal considere isso como uma atenuante, até para evitar indemnizar a família da vítima!
Ou eu estou enganada ou até os acidentes implicam indemnizações. Se uma pessoa for na rua e lhe cair um vaso em cima, o dono da janela onde estava o vaso, mesmo que não estivesse em casa, terá - e muito bem - que indemnizar o mal que fez. Num desastre de automóvel, se uma pessoa fica ferida, a companhia de seguros é obrigada a reparar económicamente esse dano. O dono de um cão é responsável pelos estragos que ele realizar. Então como é possível, um polícia estar acima dos comuns mortais, e dizer inocentemente "Opppps!..Não sabia que isto aleijava... Desculpem lá!"
Entre os muitos comentários que li, vários iam no sentido de que o morto era mau e o polícia era bom. Voltei ao Jardim de Infância. Estamos afinal a brincar aos polícias e ladrões. Mas de volta ao mundo real, parece que isso não é tão consensual como isso, e há para aí uns testemunhos a dizer que o rapaz até queria separar os outros que estavam à luta, etc.
Acho que isso não interessa, são pontos menores do folclore. O que me parece é que a nossa polícia deve andar cheínha de medo ( só pode!) mas tem a obrigação de conhecer as armas de que dispõe. Se não são eficientes, ou são eficientes demais, tratem disso. E quando se faz uma burrada, não deve saltar logo o espírito corporativo e sim assumir as consequências do que fez. A ser certo o desconhecimento da perigosidade da arma, então seriam as chefias a indemnizar a família da vítima. Só que parece que vivemos numa terra onde o maior irresponsável é mesmo o Estado.

M.L.

Cuidado com as generalizações...

A propósito de uma polémica assanhada, ontem no , BdEpor causa de um post infeliz do Filipe Moura, senti que cada vez tenho mais razão na cautela que costumo ter nas generalizações. Não estou completamente isenta desse pecado, é claro, mas faço muita força para que, conscientemente, não caia nele. Quanto mais velha, mais consciência tenho de que nunca se pode pensar ou dizer "todos os.[............] são assim, ou assado ". Não há nada, mas nada mesmo, que não tenha muitíssimas excepções e são sempre elas que nos caem em cima quando nos julgamos cheios de razão. Vou mesmo mais longe - só há uma afirmação que se pode generalizar, e estudei-a na lógica clássica : "Todos os homens são mortais". É a única! Claro que até aqui há excepções, mas só na literatura "Tous les hommes sont mortels" da Simone de Beauvoir, ou Orlando da Virgínia Woolf, mas na vida real essa generalização está, até ao momento, confirmada. E mais nada!
Claro que no calor de uma discussão nos salta sem querer, "os funcionários públicos são assim", "os emigrantes são assado", "os franceses isto", "os homossexuais aquilo", e mais "os políticos" e os "do norte" e os ... e os... e os...nunca mais acabam as gavetas/ ficheiros onde se enfia uma categoria de pessoas. Depois é claro que quanto maior fôr o grupo maior é a hipótese da asneira. Se calhar ao falar dos vizinhos do meu prédio, se eu disser que são "todos" qualquer coisa, tenho menos hipótese de errar, e mesmo assim... vá-se lá saber.
O caso que desencadeou estes pensamentos é dos mais complicados porque falar-se de "judeus" é falar de um grupo gigantesco, muito disperso, onde cabe mesmo tudo. Da política, às artes, à ciência, ao humor, há judeus fantásticos, há uns estupores e há uma multidão de gente completamente anónima que em nada se distingue de outro ser humano qualquer.
E tem graça pensar que os maiores de todos os grupos são os que na linguagem corrente mais sofrem de generalizações. Falo de Homens e Mulheres. Qual a mulher que não diz "Isso é mesmo de homem!", ou "todos os homens são iguais!"; qual o homem que não diz "é mesmo de gaja!" ou "isto só de mulher!". E o mais curioso é que estes desabafos quando ocorrem de um sexo para o outro, são sempre críticas. Mas se estivem com atenção reparem que, pelo contrário, na boca de uma mulher ouvir-se "só uma mulher para fazer isso..." então é mesmo um elogio! O ser humano é complicado, não é?
M.L.

Olho por olho? Mas de quem são os olhos?

Olho por olho? Mas de quem são os olhos?
Desde a notícia da morte do Sheik Yassin que, como de costume, quer na imprensa quer aqui na blogosfera as opiniões se dividiram imediatamente em dois blocos antagónicos. E cada um, ainda a notícia não tinha sido completamente ouvida já tomava posições inteiramente radicalizadas. Sobretudo a ala direita disse logo: Era do Hamas, era um terrorista, muito bem feito! e, pelos vistos, até pessoas que costumavam pensar primeiro antes de falar alinharam pelo mesmo diapasão.
Isto a mim, faz-me confusão. É certo que também tenho a palavra fácil, e nem sempre recolho toda a informação possível antes de dar a minha opinião um pouco no ar. Mas este é um caso onde me parece que as implicações são tantas que se lhe deve tocar com a maior cautela. E desde já aviso que estou a dar a minha opinião, mas ela está sujeita a, ao pensar melhor, vir a alterá-la um pouco.
Mas o que me parece é que este não foi um acto de retaliação simples. Tipo "Mata-se o bicho, acaba a peçonha!" Esta é uma acção política e muito séria. E o pensar que este acto em si foi um erro não significa que se tenha muita pena da criatura, que por fim teve mesmo a morte que desejava. Que sorte a dele! Só que há muita coisa para entender. Pelo que tenho lido por aí, este homem já esteve preso nas cadeias israelitas e "foi trocado" por uns prisioneiros considerados importantes. Nessa altura podiam tê-lo julgado pelos seus crimes e até segundo a lei, creio que executá-lo. Mas não o fizeram. Para mim os tribunais servem mesmo para julgar as pessoas, existiu Nurenberg e "parece" haver um T.P.I. Mas nessa altura isso foi esquecido e o homem foi útil como moeda de troca.
Mas não. Esperaram a saída de um acto religioso, e onde ele estava rodeado de pessoas para, do ar sem grande risco para os executantes, o matarem a ele e aos acompanhantes. Aparentemente queriam fazer um mártir. Ou se não queriam então foi um erro de palmatória. Passa pela cabeça de alguém que aqueles jovens, educados para serem kamikases, vão ficar amedrontados com isto? Não será previsível que, exactamente com esta acção, fiquem cheios de um fervor religioso e intensifiquem brutalmente esses atentados?
Não percebo nada de estratégias de guerra, mas o meu bom senso levanta algumas questões
- com o poderio militar utilizado não seria possível mais simplesmente prender o homem?
- Mesmo que ele resistisse à prisão não seria menos chocante para os seus apoiantes que ele morresse nessa luta do que assim, a sangue frio?
- Acreditando na valentia israelita e que não têm medo das represálias parece correcto ir por em risco a vida de tanta gente com este gesto de desafio?
Mais uma vez repito que não tenho particular pena do Sheik e acho que lhe fizeram um favor. Mas temo o efeito de boomerang.

M.L.

segunda-feira, 22 de março de 2004

Linguagem e gerações

Não resisto a acrescentar um comentário a propósito do post que escrevi mesmo aqui em baixo.
Uma pessoa amiga que, apesar do meio anonimato das iniciais, sabe que sou eu que vou escrevendo no “Cão de Guarda”, no meio de um telefonema sobre outro assunto referiu o conteúdo do que eu tinha escrito hoje mostrando o seu acordo. Acrescentava apenas que só não percebia o que eu queria dizer com isso do governo fazer o Rendimento Social de Inserção ficar espartilhadíssimo. Que palavra era essa? Lá disse que seria o superlativo de espartilhado. Mas...es-par-ti-lha-do ? Como? De dúvida em dúvida percebi que era mesmo o espartilho que provocava a confusão. Meio incrédula lá lhe pergunto se nunca tinha ouvido a palavra. Que sim, associava-a a romances de Eça de Queirós mas não sabia bem o que queria dizer.
Bom, reconheço que há realmente uma certa diferença de gerações. Para mim o termo saiu-me naturalmente, mas se calhar é melhor deixar explicado que queria dizer“muito apertado” quase que “estrangulado”.
A verdade é que os tais espartilhos eram, do ponto de vista das mulheres de hoje, verdadeiros instrumentos de tortura que apertavam o corpo de uma desgraçada de modo a ficar com uma cintura minúscula à custa de uma enorme pressão. Hoje respiramos fundo por a moda ter desaparecido.
Contudo, se calhar não foi por acaso que me surgiu aquela imagem. Devia lá meu sub-consciente estar a pensar no terrível apertar de cinto a que todos temos sido submetidos.
M.L.

O Rei Vai Nu

É interessante como uma reportagem num jornal e, pelos vistos, uma peça que passou numa cadeia televisiva (eu não vi, por isso falo de cor) parece fazer com que toda a gente se dê conta de algo que entrava pelos olhos a dentro - que a miséria e pobreza tem alastrado de um modo alarmante. Mas bastava somar 2 mais 2. Se é conhecido o problema do endividamento das famílias portuguesas, se o desemprego aumenta como se vê, se não existem primeiros empregos para quem acaba a sua formação, o que é que se esperava?
E quanto ao endividamento, vamos lá com calma, se é certo que muita gente é uma compradora compulsiva espicaçada pelo publicidade que sugere de todas as formas o “compre-agora-e-pague-depois”, a verdade é que as grandes, mesmo grandes dívidas, se encontram no sector da compra de habitação que é um bem de primeira necessidade. No actual momento, quando uma renda vai custar o mesmo que uma amortização bancária, quem precisa de um tecto acaba por o comprar! E para aí vai o ordenado de um dos membros da família. Portugal tem um mercado imobiliário que não tem em conta a média geral dos nossos rendimentos.
E que a antiga “classe média” se tem evaporado é óbvio. Ainda há uns restos, não sejamos completamente radicais, mas emagreceu muito á conta dos novos pobres. E mete bastante raiva o discurso enfastiado de uns senhores que displicentemente dizem que “eles” não querem é trabalhar, esses pobres são mas é uns grandes preguiçosos!
A entrevista do Padre Agostinho Jardim ao Público faz mais pela imagem da Igreja do que todas as missas rezadas neste mesmo domingo. Ele teve a coragem de mostrar a nudez do Rei. O Rendimento Mínimo, crismado agora de R.S.I. foi espatilhadíssimo, porque o que se pretende é acabar de vez com a medida mais generosa que o PS criou. Tinha erros, sem dúvida. O maior era não ter dado condições de ser convenientemente seguido e vigiado. Permitiu vigarices, também é verdade. Há gente que o recebia ou recebe e não precisa. Mas tudo o que se investiu num programa conhecido há uns tempos por Programa de Luta contra a Pobreza, quem presta contas disso? O que é feito dos dados? Mesmo num critério economicista não será que a luta contra a evasão fiscal daria mais lucros do que o controlo do pobre do R.S.I.? Todas as economias paralelas que não há quem não conheça, os trabalhadores por conta própria que se auto-declaram para efeitos fiscais com o ordenado mínimo, será que ninguém reparou?
Infelizmente foi preciso atirar-se com um número chocante através de uma reportagem para as pessoas se começarem interrogar
.M.L.

domingo, 21 de março de 2004

Edward Said

(prefácio a Palestina – Na Faixa de Gaza, de Joe Sacco)

Não me lembro exactamente quando li a minha primeira banda desenhada, mas lembro-me exactamente da sensação de liberdade e subversão que me provocou. Tudo no atraente livro de imagens coloridas, mas especialmente o seu formato desalinhado e aberto, o colorido extravagante das imagens, a passagem livre entre o que as personagens pensam e dizem, as criaturas e aventuras exóticas relatadas e desenhadas: tudo isso contribuiu para um enorme e maravilhoso encantamento, totalmente diferente de qualquer outra coisa que até aí eu tivesse conhecido ou experimentado.

Sábado movimentado

Ontem tive um dia particularmente cheio e diversificado. Para além das indispensáveis actividades domésticas dos sábados de manhã, passei toda a tarde na manifestação e, mal tinha chegado a casa, telefonam-me a perguntar se quero aproveitar um bilhete a mais para o Ballet da Gulbenkian o que me deu apenas tempo de trocar de sapatos e chegar lá mesmo antes de fecharem as portas do auditório.
Quanto à manif não vale a pena falar. Durante o desfile cheguei a acreditar que as pessoas chegassem para encher a praça, mas quem lá esteve viu que de facto não chegaram. O momento mais quente e emocionante foi quando uns operários a trabalhar numas obras, mesmo do alto do prédio, acenaram e mostraram uns cartazes de apoio. Não podiam estar ali naquela altura, que tinham de ganhar a vida, mas apoiaram. E também foi interessante o leque de idades: muita gente de cabelos brancos, enrugada e cansada, e muitas cadeirinhas de bebés de olhos arregalados que obviamente não sabiam onde estavam mas os seus pais, jovens, sabiam. Contudo para quem esteve nas duas, a de há um ano atrás e a de ontem, é inegável que esta foi mesmo mais fraca. Não valia a pena tanta mobilização de raiva das forças de direita.
Mas o que motivou este post foi um pormenor da minha noite. O ballet foi interessante, embora eu não aprecie muito a música contemporânea. De uma forma geral gosto muito de arte moderna excepto a música; aí sou um bocado tradicional. Mas o bailado em si foi muito bom e valeu muito a pena a deslocação. O interessante, o tal pormenor que referi acima, foi o facto de os bailarinos não virem referenciados a não ser em bloco, e por ordem alfabética. Em cada bailado, o programa dizia quem era o coreógrafo, o cenógrafo, o figurinista, etc. mas nada de bailarinos. Numa página única estavam todos os seus nomes e as fotografias.
Eu fiz uma interpretação que não sei se está correcta. Se um bailarino nos marca, então fixamos a pessoa e pela foto encontramos o nome. Digamos que é o reconhecimento do mérito. Se, por acaso, ele não nos marcou, se não somos capazes de o identificar, então nem vale a pena conhecer o nome... Será isto? Se não é, podia ser.

M.L.

sábado, 20 de março de 2004

Começou há um ano, lembram-se?

Faz hoje um ano que começou a Guerra no Iraque.
Era para ser uma guerra super rápida, com objectivos “cirúrgicos” como se dizia, que praticamente nem atingia os civis. Chamavam-lhe uma Guerra Preventiva, porque aquele país se preparava para atacar os outros com umas temíveis armas que em 20 minutos espalhariam a morte em todo o mundo. Como os inspectores que as Nações Unidas tinham nomeado tardavam a encontrar provas destas fortes convicções, o governo dos Estados Unidos, aliado ao da Grã-Bretanha e ao de Espanha, avançaram nessa guerra “defensiva”. Isto, ao arrepio da organização que representa todo o resto do mundo, a Organização das Nações Unidas.
Essa guerra começou há um ano, e como não foi declarada nenhuma paz, é porque ainda não acabou. Terminou, realmente, com o reinado do sanguinário ditador Saddam e daí com o embargo que desde a guerra do golfo tinha piorado muito a vida dos iraquianos, mas creio que, apesar de com mais liberdade de expressão, lá no Iraque ainda se vive bastante mal. Era - e é - uma terra com formas de violência terríveis, onde as minorias são gravemente oprimidas. Mas a verdade é que se as tropas americanas fizeram umas entradas de leão, não parece terem pacificado coisa nenhuma. Hoje, talvez reconheçam que teria sido mais avisado esperarem pela opinião das Nações Unidas que foram tão seriamente desautorizadas. Porque neste momento a entrada dessas forças de “capacetes azuis” é muitíssimo mais difícil, como infelizmente se viu. Os generais americanos abriram a “caixa de Pandora” e não conseguem voltar a fechá-la.
Em memória destes acontecimentos, organizam-se hoje por todo o mundo, manifestações relembrando esta triste guerra e gritando contra o terrorismo.
Como a promoção, quer a nível internacional quer nacional, tem conotações com posições de esquerda, logo as outras forças se perfilaram num contra-ataque, quase mesmo sem querer saber o que estava em causa, numa atitude de se-vem-dali-deve-ser-mau ! E tem-me chocado uma técnica, que pelos vistos resulta, de aproveitamento de uma porta aberta. Como os convites para a manif foram maioritariamente enviados por sms, começaram a circular outros sms, montados com habilidade, e convocando para a mesma manifestação mas usando palavras de ordem erradas e de um tal extremismo que afastaria a pessoa menos informada. Já tenho lido, aqui e ali, nestes blogs, comentários que dizem “Eu até pensava ir, mas francamente, dizer-se [ ....] assim não concordo!” Pronto! Fizeram uma sabotagem impecável, tiro-lhes o meu chapéu. Só que são bons sabotadores mas nem por isso ficaram com mais razão. Foi a vitória da esperteza, não da razão nem da inteligência.

M.L.

sexta-feira, 19 de março de 2004

Uma emenda

Voltei a passar por aqui e ao reler o que escrevi dois posts abaixo fiquei com muito má consciência. Mesmo muito má. Porque chamei a atenção para o aspecto “consumista” do Dia do Pai, o que continuo a achar censurável, mas fiquei-me por aí. E a verdade é que Dia do Pai ou Dia da Mãe são dias bonitos. Porque é um encadeado de relações geracionais, de grande ternura e que a todos sabe bem. Mesmo quando existem conflitos, e isso é frequente e é natural, este é um dia de tréguas.
Se ainda somos crianças é uma imagem forte, o Pai é idealizado, a pessoa que sabe tudo, que pode tudo, que podemos sempre (pelo menos em imaginação) chamar em nosso socorro – “Olha que eu digo ao meu pai!”. E nos dias de hoje, o pai em muitos casos deixou de ser aquela figura autoritária e distante que era uma referência antigamente. Para os meninos de hoje, Pai relembra sobretudo ternura, compreensão, carinho, protecção.
E depois é importante lembrar que estes Pais têm também os seus próprios pais. Mais cansados, menos fortes, menos ideais, mas por quem também se sente uma grande ternura e muito amor. Mesmo quando já desapareceram, estão sempre vivos no nosso coração, na nossa saudade, na nossa memória.
Bom Dia para todos os Pais, e parabéns por o serem
M.L.

Brincadeiras e nada mais

Através de um bloguista que já nem sei identificar porque fui passando de link em link, cheguei a um site chamado The Political Compass que entre várias coisas propunham um divertido teste (?) às nossas tendências esquerda / direita em áreas económicas e sociais.
É mesmo muito engraçado. Eu não sei fazer um link a sério, ( de qualquer modo o endereço é: http://www.digitalronin.f2s.com/politicalcompass/index.html
e assim chegam lá de certeza)
Mas o que me faz sorrir, é que nestas coisas confirma-se sempre o que já se sabe! Na grelha final a minha bolinha encarnada ficou exactamente a meio do quadrante de baixo à esquerda. Até é engraçado tão centradinha está. Mas se fosse outro resultado, está-se mesmo a ver que eu dizia logo: “Olha o disparate! Esta gente está parva, ou quê?”. Isto para se voltar sempre ao mesmo que poderemos influenciar ou convencer indecisos, mas fazer alguém convicto, mudar de opinião é tarefa quase impossível.
M.L.

Homens e Máquinas

Ultimamente tenho utilizado bastante um novo serviço que o meu Banco inaugurou em benefício dos seus clientes. É um aparelhómetro, que além das funções das antigas Caixas Multibanco, também permite depositar cheques directamente, sem se preencher nenhum papel. Muito prático. E temos de reconhecer que rápido porque evita as bichas ao balcão. Assim, cada um trata de si e pode utilizá-lo segundo as suas conveniências, mesmo quando o Banco está fechado.
Mas vinha andando pela rua e a reflectir que se isto é um benefício deste ponto de vista, também é certo que diminui os encargos do Banco com pessoal. Estas máquinas, multiplicadas por todas as agências, podem significar despedir, ou não contratar, muitas pessoas que precisam de trabalhar. E este mundo cada vez é mais impessoal e já começa a ser quase alarmante a não-necessidade de contacto humano para as mais corriqueiras acções do dia a dia.
Quando as grandes superfícies substituíram as lojas de bairro, deixámos de pedir 1 quilo de arroz ou meia dúzia de ovos ao Sr.Manel, que nos conhecia e com quem conversávamos, para nos servirmos a nós mesmos e só trocar um rápido Bom Dia com a menina da caixa, cujo nome se sabe por estar escrito na bata, menina que varia com frequência.
Com a chegada do passe social e os módulos de transporte, desapareceu a figura do "pica-bilhetes" que, para além do motorista, nos acompanhava na viagem e vendia os bilhetes ali mesmo, na hora, picando a paragem para onde se seguia. Hoje, a picagem dos bilhetes é mecânica, feita por máquina.
Já se pode dizer que são a maioria, os cinemas cujos espectadores se arrumam sozinhos. O arrumador existe para verificar se trazemos bilhete e, por vezes, se chegamos já com o filme a decorrer, dá um jeitinho com a lanterna para nos descobrir um assento vago.
Podia continuar, mas acho que já chega para se ver onde quero chegar. Não sei nada de economia portanto acredito que tudo isto terá de ser, que é progresso, rentabilização das pessoas, etc. Mas é também uma desumanização do mundo. Como não é indispensável falarmos uns com os outros, ( temos as máquinas) vemos para aí gente a falar sozinha, a responder a um locutor que está a falar na televisão ou, por fim, a recorrer a um psicólogo quando a ansiedade é muita. Se calhar há que repensar algumas coisas.
M.L.

Mais DIAS famosos

Hoje, 19 de Março, convencionou-se ser o Dia do Pai. Fica sempre de pé a ironia de se escolher para padroeiro aquele santo que de certeza NÃO era pai, era apenas marido de uma mãe. Por mim, este devia ser o dia dos Santos Maridos.
Por essas escolas e infantários do país as educadoras põem os seus meninos a fazerem prendas para dar aos pais. E, coitadas, bem se esforçam a tentar imaginar qualquer coisa de novo porque entre as capacidades de execução das criancinhas e os estereótipos do que se deve "dar a um homem", a gama possível não é nada variada. Há o desenho emoldurado, o porta chaves, o pisa-papeis, o marcador de livro, ... É claro que, como rapidamente o comércio se apoderou desta festa, depois vem a prenda comprada pela mãe, que as crianças que já não estão em infantários exigem, coisa
a sério. E eu fico parva quando folheio uma revista ou olho para uma montra e reparo nas propostas de prendas para o Dia do Pai! Numa óptica minimamente pedagógica, estes deveriam ser objectos acessíveis a uma mesada de um jovem, mesmo que esta fosse um pouco reforçada pela ajuda económica da mãe. E poucos miúdos de 10, 12, 14 anos tem mesadas para comprar colónias de 50 euros, máquinas de barbear de 85 ou berbequins de 100 euros! Eu sei que o comércio tem de funcionar e também dá emprego a muita gente, mas haja bom senso.
M.L.

quinta-feira, 18 de março de 2004

Rescaldo

No Público de hoje um artigo referindo “Psicólogos tratam psicólogos” faz-nos reflectir um pouco nas ondas de choque sucessivas que o atentado de Madrid provocou. Embora se calculasse, não imaginei números tão gigantescos. É que 5.000 pessoas atendidas e 10.000 telefonemas de gente a necessitar ajuda é mais do que podemos imaginar. Porque quando se fala em “atender” uma pessoa vítima do choque de um crime daqueles não é estar 5 minutos a ouvi-la e dar-lhe uma pancadinha nas costas. Assistir psicologicamente uma vítima, ou um familiar em desespero, ou alguém que estava lá e não pode fazer nada, é um trabalho terrível e que por melhor saúde mental que se tenha não dá para resistir muito tempo. Para essas 5 mil pessoas era quase necessário terem existido 5 mil especialistas de saúde mental! E não creio que fosse possível. Acredito que neste momento quer as vítimas propriamente ditas, quer aqueles que as assistiram e tentaram ajudar, todos devem precisar de apoio e ajuda. Há decerto cenas que nunca vão esquecer e irão marcar a sua vida futura.
E quando depois oiço certos comentários, dizendo de ânimo leve, que aqueles milhões que encheram as ruas no dia seguinte, ainda a quente a quando o choque era vivíssimo, foram depois, com o intervalo de 2 dias, votar sob a influência do medo não consigo entender a lógica do raciocínio.
Medo? Eu vejo é raiva, é desespero contra o não permitir que o povo esteja bem informado e poss decidir o que quer, contra aceitar que se decida por nós, em nosso nome, sem nos consultar. Essa é a minha visão das manifestações e do voto espanhol.

M.L.

quarta-feira, 17 de março de 2004

Cenas da Vida Actual

Não sendo uma "telemoveldependente", acho que esses aparelhos têm bastante utilidade. Ainda não me salvaram a vida, mas têm-me ajudado a sair de situações difíceis. Ainda há muito poucos dias, a caminho de uma reunião de alguma importância num subúrbio onde nunca tinha ido, só com as indicações que me vinham chegando por esse aparelhómetro consegui resolver airosamente a situação. Cheguei lá a dizer "abençoado seja quem inventou esta máquina"!
Mas isto não me impede de considerar por um lado a dependência de algumas pessoas, completamente patológica, controlando ( ou julgando que controlam) os amigos e familiares de um modo quase persecutório, falando-lhes a todo o momento e nas situações mais incríveis; por outro lado tenho de achar completamente cómico o modo como muita gente o usa, por sistema falando aos gritos.
E comecei a escrever este comentário exactamente por, ainda há minutos me ter visto, em plena rua, entre 3 pessoas desconhecidas entre si que, literalmente, berravam para o ar. Recuei mentalmente uns anos no tempo, e calculei o que pensariam os meus avós se caíssem de repente numa rua de Lisboa. Observar pessoas de aspecto normal, com uma mão junto a um ouvido, ou às vezes nem isso, e que mantêm uma conversa em voz alta com um interlocutor invisível??? Por menos do que isso foi queimada a Joana d'Arc!

M.L.

Ângulos opostos

Quando era criança havia uma frase dos adultos que me irritava solenemente. Conforme as situações diziam-me: “O quê!!? Só tens 10 anos e já queres...[ o que fosse na altura]” mas logo a seguir a propósito de outra coisa diziam-me “Quê??! Tu já tens 10 anos, tens de ....[ outra hipótese]”. Estes e , pareciam-me o cúmulo da injustiça!
Lembrei-me disso hoje que o governo faz dois anos. Pelo que estou a ouvir na rádio, dizem que se passaram dois anos e portanto ainda falta muito tempo para se pensar num futuro. Contudo, também faltam dois anos ( curioso, não é?) e já por aí não faltam candidatos à presidência da república como de Jorge Sampaio estivesse de malas feitas. Calminha...
M.L.

Climas...

Para quem nasceu num país de sol como o nosso, o bom tempo é não só natural como uma condição obrigatória. Quando há muitos dias de mau tempo, falta de sol, neblinas, ficamos zangados com o tempo, como se ele "se portasse mal", não fizesse o seu trabalho bem feito. E depois com esta hiper-sensibilidade, muitos de nós (é certo que falo por mim, mas sei que não sou caso único) sintonizamo-nos com o tempo. Em dias luminosos também brilhamos, se o tempo está sombrio, sombrios ficamos.
Vivi uns anos numa terra onde o céu só estava azul uns dois meses no ano e estive mesmo muito difícil de aturar! Por outro lado, entende-se porque é que o brasileiro tem um modo de encarar a vida com um humor que não tem nada a ver com o nosso. Pudera, com sol todo o ano e um clima muito mais regular.
Nos países tropicais sinto um pouco que aquela calor e humidade nos fazem como que regressar ao ventre materno – deve ser por isso que esses povos são menos enérgicos. Mas cá estou a generalizar que é defeito que detesto. Porque isto dos povos terem uma identidade única só serve para simplificar os pensamentos. E então terras como o Brasil ( e em certa medida os Estados Unidos) que são feitos de uma misturada de gente de variadas raças e origens. E é por isso que reajo muitas vezes quando vejo falar de um povo por aquilo que fazem os seus dirigentes. O que faz a Administração Americana é uma coisa, os americanos são os americanos. Até porque os governos vão mudando, como se viu aqui ao lado, mas o povo é sempre o mesmo.
M.L.

terça-feira, 16 de março de 2004

Histórias de Mães

Isto de mães é cá uma raça especial!
Tenham os filhos que idade tiverem são vistos como uns pintainhos a sair do ovo. E é cómico porque em relação aos nossos próprios pais não temos a mesma crítica. Sabemos lindamente criticar se a nossa mãe nos dá uns conselhos como se ainda fôssemos adolescentes. Mas os “nossos” são sempre meninos...
Esta introdução é por causa de uma história que aconteceu a uma colega de trabalho.
O filho foi ao dentista e quando chegou a casa sangrava um bocado da gengiva. Ela conta que viu logo ali uma hemorragia mortal. Não está de modas. Pega-se ao 112 até contar a sua história ao serviço de urgência. Lá vai explicando e do lado do fio vão-lhe dando alguns conselhos e desdramatizando a questão. Às tantas perguntam-lhe:
- E que idade tem o menino?
- Tem 29 anos.
- OH, MINHA SENHORA!!!!!!!! E então ele não soube perguntar ao médico o que devia fazer numa situação dessas? Não lhe pode passar o telefone, faz favor !??
Creio que a “consulta” ficou por ali. O pobre do rapaz nem sabia que atestado de imaturidade a mãe lhe estava a passar sem ele saber de nada.
Mães...
M.L.

segunda-feira, 15 de março de 2004

Sempre!


Só não percebo essa lógica aritmética que dá como resultado "Foi expontânea porque não foi preparada com antecedência, tão simples como isso. E escrever um cartaz leva 10 minutos. E porque não foi convocada por nenhum partido." Talvez se possa dizer isto se lá se tiver estado. É o caso? Para mim, que sou um cínico, as manifestações espontâneas são como os improvisos no jazz: muito bem estudados.
Mas quanto à democracia, sempre!
AP

Viva A Espanha! Viva a Democracia!

Esta foi uma semana de grande emotividade política. Desde o momento em que deflagraram as bombas em Madrid até às declarações finais dos líders partidários de Espanha a emoção era palpável e cada um dizia, pensava, desejava, desde as coisas mais sensatas aos maiores disparates. Claro que é lógico que cada um “puxe a brasa á sua sardinha” e tente interpretar os factos segundo uma visão que veja justificar as suas convicções. Já me irrita que se diga que os adversários afirmaram coisas que nem lhes passou pela cabeça. Porque há coisas que são, parece-me, incontornáveis.
Os actos terroristas são sempre uma chantagem política. Nunca podem ser aceitáveis. Tal como os reféns, numa linha mais soft mas também altamente condenável. Misturar gente anónima e inocente com desígnios políticos, mesmo que concordemos com eles, não é aceitável. Quando esses actos atingem uma escala como estes, mais visíveis, dos 11 de Setembro ou Março deixam todo o mundo sensível horrorizado. É certo que nas guerras morrem milhares de pessoas anónimas e inocentes – por isso odeio as guerras – mas há a “desculpa” de se estar em guerra e as leis da guerra serem essas. Não me posso contudo esquecer Hiroshima, num momento em que a guerra estava já, praticamente, ganha e onde morreu mais gente do que nos “11s” - Setembro + Março...
Depois achei curioso que se questionasse se estes ataques tinham motivos políticos. Então o que haviam de ter? E para se poder combater o que os motiva tem de se entender os motivos. Ou então caímos nós noutro fundamentalismo : é o Mal absoluto, como o Diabo. Não, quando há acto humano é porque há motivo político por pior e inaceitável que ele seja.
Quanto ao governo Espanhol é uma espécie de fábula: quem tudo quer tudo perde. O PP tinha tudo na mão, tinha conseguido vencer o crise do Prestige, tinha vencido o desagrado pela intervenção no Iraque, as últimas sondagens davam-lhe a maioria e quis aproveitar as últimas gotinhas para ver se chegava à maioria absoluta. O pior é que as gotinhas eram gotinhas de sangue e o tiro saiu pela culatra. A Espanha somou 2 + 2 e achou que algo estava mal. Mostrou-o
Por último uma nota quanto à manifestação de Sábado à porta do PP. Tenho lido, aqui nos blogs, comentários a essa manifestação com aspas no que se refere a expontânea. Não percebo. Mas o que é que acham que é uma manifestação expontânea??? Certo dia, pessoas que não se conhecem de lado nenhum, sentem no seu íntimo uma vontade de ir para um local e dizerem umas verdades em vós alta, pronto, lá vão! Por favor! Foi expontânea porque não foi preparada com antecedência, tão simples como isso. E escrever um cartaz leva 10 minutos. E porque não foi convocada por nenhum partido. Tudo isso define a espontaneidade. Agora que as pessoas falaram umas com as outras e se chamaram por msn ou net, isso já se sabe, e não altera nada. Não vejo onde se justifique as aspas. Ou então nunca pode ser expontânea, será sempre organizada. Haja bom senso.
M.L.

sábado, 13 de março de 2004

Livros emprestados

Anda a correr na net um abaixo assinado em defesa da continuação do empréstimo público nas bibliotecas portugueses. Parece-me da maior justiça, e até me custa relacionar com os possíveis “direitos de autor”, a implementação uma medida que pretenda impedir esse empréstimo. Até porque Portugal nem sequer é dos países onde se pratique mais esse costume de utilizar em casa livros de bibliotecas. Tanto quanto me apercebo, o povo português não lê lá muito e ponto final. Lê uns jornais ou umas revistas e lá vai comprando uns livrinhos que por vezes empresta aos amigos. Mas não são os das bibliotecas públicas trazidos para casa que arruinam os editores.
Ora a propósito disto, e em jeito de comentário ao modo como alguns de nós lidamos com a “autoridade”, não resisto a contar uma história:
Há uns tempos uma amiga minha foi fazer compras a um Supermercado. Pagou, pegou nos sacos das compras e ao passar a porta, soa um apito altíssimo que faz suspender toda a gente olhando suspeitosamente para ela. Aparece de imediato um polícia que a acompanha junto da Caixa onde os sacos são revistados para ver o que teria ela furtado! Nada. Tudo o que ali estava tinha sido pago. Pede-se para despejar a carteira e o resultado é o mesmo: só objectos pessoais. Entretanto a multidão engrossa perante o vexame da minha amiga. Ora, entre as coisas que tinham saído da grande carteira que trazia, vinha um livro. E alguém, entendido na matéria, de certo, alvitra: “Não será um livro de biblioteca?” Bingo! Como ela é professora universitária tinha trazido uma obra da “sua” biblioteca e não o tinham desmagnetizado. Faz-se a experiência e de facto o livro apita. Pronto, muitas desculpas, e “faz favor de passar, minha senhora”. Que nada, diz ela. “Vá o Sr. Polícia à frente a apitar com o livro e eu vou atrás com os sacos! “ E foi assim mesmo. O polícia, coradíssimo, lá passou a apitar e ela, triunfante, foi atrás dele até sair do Supermercado.
Senti-me vingada, por interposta pessoa, de alguns vexames que nos fazem passar.
M.L.

Bebés pobres, bebés ricos

Como tem de ser, por mais vasta que seja a cultura geral de cada um, todos nós temos umas áreas de estimação onde nos sentimos melhor informados para compensar todas as outras onde o que sabemos é mesmo superficial. A minha área "de estimação" tem a ver com miudagem, educação, saúde, respostas sociais a diversas necessidades. E é por isso que me decidi a partilhar aqui uma dúvida que me tem crescido de um modo inquietante nos últimos tempos.
Como se sabe, o Ministério da Educação assume a educação desde o chamado "pré-escolar" até ao final do "ensino superior". Tarefa gigantesca e por isso também é que é um Ministério gigantesco. Mas, antes do pré-escolar, (admitindo que essa resposta está implementada, de facto, por todo o país, o que nem vale a pena dizer que é uma utopia) as crianças até aos 3 anos só podem receber uma resposta social em infantários ou creches, que são do foro da Segurança Social. Tal como os ATL são as chamadas respostas de apoio à Família. Partilham esta responsabilidade com a Segurança Social as múltiplas Misericórdias espalhadas pelo país. De sublinhar o papel da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, obviamente a maior e mais rica - é uma espécie de ministério paralelo.
Os senhores que ultimamente nos governam têm seguido uma política de alienar tudo o que podem e, muito rapidamente aquilo que, por definição, não dá lucro. É claro que as políticas sociais não são para dar lucro e, portanto, quanto menos se fizer, melhor. Isto para dizer que os infantários da Segurança Social - onde se paga segundo uma tabela de acordo com o IRS dos pais - têm listas de espera muito maiores do que as das operações nos hospitais. Na zona de Lisboa, é vulgar para 20 futuras vagas os infantários terem de 200 a 300 inscrições.
Mas o que me levou a escrever hoje aqui, é o saber que pouca gente tem consciência de um facto muito chocante. Se por um lado, se vai dando uns passos no sentido da inclusão de crianças com deficiência no ensino público, estamos a criar guetos sociais entre os bebés. Segundo as normas que os estes infantários têm de cumprir, a prioridade de admissão é para famílias com menores rendimentos. Certíssimo. Mas não é preciso muita imaginação para concluir que ao escolher 20 de 200 candidatos, os menores dos menores dos menores rendimentos é... rendimento zero. Portanto os nossos infantários vão ficar entupidos com crianças de famílias que vivam no limiar da pobreza. Exclusivamente! Exagerei ao falar em guetos?
Alguém se lembra de uns cartazes do PP onde se proclamava "Vamos criar mais lugares em creches!" ? E o Dr. Bagão é um ministro PP, não é? A verdade é que não disseram de que creches estavam a falar. Agora é que se percebe que afinal se referiam a creches privadas. Só pode ser. Excluindo da resposta pública as famílias com um pouco mais de recursos, estas têm de se encaminhar para o privado onde pagam por filho o correspondente a um salário mínimo. Portanto a mensagem do cartaz foi mal interpretada: não era aos pais que se dirigia, era aos proprietários dos infantários privados prometendo um aumento de lucros. Bate tudo certo. Eu é que fui uma parva!
M.L.

sexta-feira, 12 de março de 2004

Tanto ódio

Por feitio, por convicção, por educação, sou pacifista. Respeito profundamente a vida humana e o “dente por dente e olho por olho” sempre me pareceu um conceito primitivo e selvagem. É evidente que há monstros, ditadores sanguinários que devem ser neutralizados e impedidos de continuar os seus crimes. Mas, mesmo para os monstros, não acredito na pena de morte, seria descer ao nível deles. Daí a minha dificuldade em entender certos modos de pensar e de agir.
Quando foi o 11 de Setembro fiquei estarrecida. Mesmo não aceitando morte nenhuma, mas se os alvos tivessem sido apenas o Pentágono ou a Casa Branca, continuava a não aceitar mas digamos que compreendia. O terem atingido as Torres aquela hora, cheias de gente, senti que não aceitava nem sequer compreendia. Nunca por nunca. Matar e matar gente inocente só como aviso, era uma monstruosidade.
Este 11 de Março faz reacender a mesma incredulidade. Como é possível ? Aquela gente não tem nada a ver com o Poder, com os Centros de Decisão. O Poder deste mundo não anda de comboio suburbano às 8 da manhã. Anda de carro com motorista ou avião privado. E isto, volto a dizer, compreendendo mas não aceitando que se mate seja quem fôr. O horror de Madrid é uma amostra de ódio, selvagem, descontrolado, que não parece ser humano. Porquê odiar-se tanto? Indiscriminadamente. E friamente, planificadamente, de um modo que, pelas informações, ainda poderia ser pior. Que loucura pode levar homens a pensar com cuidado e rigor, durante muito tempo, no modo mais eficaz de matar, e matar na maior quantidade possível? Não consigo imaginar. Esta explosão brutal de ódio em estado puro deixa-me mesmo sem capacidade de pensar. Se o que se pretendia era chocar então conseguiram – o que todos sentimos é horror e choque. Mas, volta a perguntar, para quê?

M.L.

quinta-feira, 11 de março de 2004

Não entendo

Como é possível que se faça aproveitamento político de um horror como o atentado de hoje. Tenho ouvido alguns comentários e nem quero acreditar. É claro que se pergunta a quem aproveita isto tudo. Que se pergunta quem tem capacidade de organização para uma acção destas. Diz-se que a ETA estava desmembrada, os cabecilhas presos, as principais linhas controladas; mesmo assim fizeram-no? Mas a Al Qeda por quê? Para quê? Que ódio é este? Tenho de parar e ficar em silêncio para pensar. A hora é mesmo de silêncio.
M.L.

Sem palavras

Esta manhã tinha várias ideias para posts que tinha pensado deixar aqui ficar hoje. Neste momento desapareceram completamente! Há momentos onde as palavras perdem o seu sentido habitual. Só ficam os sentimentos, o espanto, o horror, a incompreensão. Como é possível? Para quê? Como pode ser planeado com tanta frieza e calculismo a morte de seres humanos completamente inocentes, trabalhadores, imigrantes, jovens, crianças...???? É possível ? Foi. Temos de acreditar.
M.L.

terrorismos


quando cheguei a La Paz, quase meia-noite de um dia de greves, de bloqueios, de violência, e deparei com um restaurante-bar-pontodeencontro judeu, repleto de jovens, fiquei admirado, muito admirado. já no Titicaca peruano encontrara 3 raparigas israelitas de 20-21 anos, e ficara surpreendido. afinal, depois de 2-3 anos no exército, com bombas a explodir ao lado, precisavam da Amazónia ou do salar de Uyuni, 'para refazerem a cabeça'

depois disso, na primeira manifestação em defesa da Palestina, em Lisboa, não consegui suportar mais que uma palavra anti-israelita, como se os dois lados da barricada pudessem separar os bons e os maus

estes atentados em Madrid justificam todo o repúdio. e mesmo que Aznar e PP se sirvam dele para uma manifestação, se eu fosse espanhol, estaria nela. contra o terrorismo dos muros da vergonha no Médio Oriente ou contra as bombas das ETA, contra os terrorismos

Mais gastos à vista

Partidas da sociedade de consumo! Se há criatura anti-consumista, acho que sou eu. Por educação, feitio, eu sei lá, mas a verdade é que penso várias vezes antes de comprar qualquer coisa e não me tenho dado mal com isso.
Quando apareceram os DVD fiquei interessada, como toda a gente, é certo que têm grandes vantagens sobre as gravações de vídeo, mas os preços dos primeiros leitores eram assustadores. Adiante, achei que era um bem completamente supérfluo. E, já agora, porque entre um filme em vídeo e uma ida ao cinema a segunda opção vence aos pontos – nada se compara para mim à magia da sala escura, e ao grande ecran.
Depois os “leitores” de DVD começaram a baixar de preço vertiginosamente e a fazer pensar, mas a tal costela anti-consumista dizia-me que o que devia comprar era um leitor/gravador e esses ainda eram incomportáveis. Portanto, mais uma vez... adiante !
Só que agora apanhei um golpe baixo. Passo pela Fnac e descubro que alguns dos meus filmes de culto aparecem em versão DVD. Muitos deles nem mesmo em vídeo sabia que alguma vez tivessem sido editados. Pronto. Lá terá de ser. Parte-se o mealheiro e entra um leitor de DVD em mais uma casa portuguesa.
M.L.

Dias felizes e dias infelizes

Frase de um post de Luís Rainha no BdE:
«Quem nunca teve um daqueles dias tão recheados de más notícias, correrias, desgraças de formatos e cores variáveis, que parece mesmo pesar-nos demais no peito, emitindo ao entardecer pequenos presságios de dor à laia de aviso de colapso iminente?«
É tal e qual assim. O recheio dos dias tem a mania de vir em cachos de momentos maus ou momentos bons. É um raio de uma magia qualquer. Toda a gente passa por momentos onde parece que as forças dos deuses todos se uniram para nos tramar. Não há nada que não corra mal. Quando se pensa que já tudo aconteceu, descobrimos que ainda há um pequenino azar para nos cair em cima.
O bom, é que a fórmula inversa também funciona. É por revoadas. Há ocasiões onde parece que uma fada azul ou um anjo de azas brancas anda a tomar conta de nós. Tudo nos corre bem. Como se a sorte atraísse mais sorte. E esta fórmula, comigo, tem a mania das grandezas e não se fica por “dias” é mesmo “épocas”. Ao contrário do Luís tive ontem um dia glorioso, completamente doirado, onde tudo o que desejava milagrosamente aconteceu. Quase tenho medo de respirar ainda assim a bola de sabão mágica rebente, e este momento desapareça. Se não rebentar, pode ser que me esteja a aproximar de uma dessas épocas onde a alegria atrai alegria. É a noção, que a linguagem brasileira tornou popular, de “pensamento positivo”. Só que acho que para se pensar positivo temos de ter um ponto de partida já positivo. Nos momentos mais cinzentos não se encontra um ponto sólido para firmar a escada para começarmos a subir. Deve ser por isso que Portugal anda deprimido e pessimista. Olhamos à volta e é difícil encontrar o tal ponto positivo. A não ser que se considere que uma vez que não pode estar pior, agora o caminho só pode ser para cima...
M.L.

quarta-feira, 10 de março de 2004

Chineses

Quando li esta notícia,
“Depois da divulgação de panfletos anti-aborto pela SOS Vida, o representante de Taiwan em Portugal exige um pedido de desculpas por parte da associação, além de uma declaração por parte do Governo português” ,
pareceu-me uma inevitabilidade de todo este triste processo. É que ainda por cima, se há povo que adore crianças é o povo chinês. Eu conheço mais ou menos bem certos aspectos da China e não aprecio todos. De um modo geral até ponho grandes reservas a alguma da sua forma de pensar e a muitos dos seus valores. Mas se há coisa simpática, para uma mentalidade europeia é a sua forma de tratar crianças sobretudo pequeninas. Eles adoram crianças. Creio que o golpe do “filho único” deve ter sido mais duro ainda ali do que o seria para outros povos. Portanto aquela ideia terrível do pedo-canibalismo calculo que se chega lá aidna somos atingidos por um míssil sem percebermos o que se passou.
M.L.

Ideias Feitas

Embirro com ideias feitas.
Esta é uma frase parva porque ninguém gosta de ideias feitas, já o nome é ofensivo! Só que as nossas são originais e correctas, as dos outros é que são "feitas"... Mas creio que me faço compreender: há muitas noções que, porque são partilhadas por uma maioria, são tidas como verdades incontestáveis e nunca nos interrogamos sobre elas.
Ultimamente andamos a recuperar o conceito de auto-estima. E isto porque durante muitos e muitos anos, era considerado egoísmo e feio, pensarmos em nós. A pessoa bem formada pensava sempre primeiro nos outros e deixava-se ficar para último. Era assim que "devia ser". Até que houve quem protestasse, que por exemplo não se podia dar o que não se tinha e quem não recebia amor dificilmente o dava, etc., etc. A conhecida história/metáfora de que num avião um adulto acompanhado de uma criança, se fôr necessário recorrer às máscaras de oxigénio deve primeiro colocar a sua e só depois, lúcido, colocar a da criança. O que quer dizer que vai tudo no mesmo sentido, para se viver em sociedade temos de gostar dos outros mas também, e se calhar primeiro, gostar de nós mesmos. Uma volta de quase 180 graus.
O que é giro, é que se cumprirmos os célebres "mandamentos" - e nada mais correcto e isento do que os mandamentos da lei de Deus - diz-se que os 10 se podem resumir em "Amar a Deus sobre todas as coisas" e...."Amar o próximo como a nós mesmo". Não vem cá com ideias de amar mais do que a nós! É tal e qual - ao próximo como a nós mesmo.
M.L.

terça-feira, 9 de março de 2004

Prós e Contras

Nem sempre oiço este programa da RTP. Começa tarde e acaba tardíssimo para as minhas horas normais de sono e, além disso, não aprecio a moderadora. Pertence aquela escola agressiva de inquirir as pessoas que, não sei se as incomoda a elas mas a mim que assisto, incomoda-me muito. Mas ontem abri uma excepção porque o tema me interessava muito e os participantes abriam o apetite. É claro que, dado a escolha dos participantes o tema não deveria ser “educação” e sim “novas famílias” e esse aspecto foi realçado quando as coisas começaram a aquecer por várias vezes.
Bem, vamos ao Vilas-Boas. Era uma das atracções como é óbvio, mas foi uma decepção. Sou suspeita, porque já aqui disse que sempre detestei o homem, mas ontem nem dava para detestar o suficiente. Deve ter ouvido tantas ou tão poucas que agora só falava de leis. Mas o homem não é militar? Não é “psicólogo”? Agora é jurista? A verdade é que jogou completamente à defesa, afinal não disse nada daquilo que disseram que ele disse! Tadinho! Bom, é certo que muitas vezes o que se diz retirado do contexto assume aspectos que parecem perfeitos disparates. Isso é frequente, mas a pessoa quando o nota imediatamente faz publicar um esclarecimento. Ainda muito recentemente se deu um caso destes com uma notícia da Lusa. Ora o Sr. Major não só não chamou a atenção como reforçou as suas declarações na TV. Só ontem veio com a conversa de que tinha sido outro o seu discurso. Batoteiro!
O Miguel Vale de Almeida estava ali por causa do major. Era óbvio. Se o tema fosse apenas educação, além da M.ª Emília Brederode e Eduardo Sá, deveria estar ou outro pedagogo ou na sociologia, dentro da sociologia da família. Claro que se o tema vier a ser “novas famílias” o painel já será mais correcto. Mas afinal, com tanta falta de luta pelo lado Vilas-Boas o discurso do Miguel teve de ser muito mais sereno. E foi. Vinha documentado, mas como a conversa não foi por ali, os temas ficaram apenas levantados.
O que achei completamente extraordinário foi a escolha das famílias, representativas. Gostei mesmo muito que, como família monoparental, viesse um pai e uma filha. E um pai excelente. Pareceu-me uma muito boa escolha, mas ficou a faltar a mãe com um ou vários filhos. Acho que havia espaço para os dois casos, e devemos reconhecer que é muito mais frequente a monoparentalidade ser representada pela mãe e filhos. Também foi correcto (até pela polémica recente) a presença de uma família homossexual. E aquela mostrou-se uma boa mãe, dificilmente se lhe poderia apontar qualquer coisa. Faltou contudo a representação de algo, frequentíssimo, que é a família “reconstruída”. É talvez, estatisticamente, o mais vulgar, haver filhos de um primeiro e um segundo casamento – onde estavam eles?
Agora o que foi delicioso foi a escolha da “família tradicional”. Calculo que a produção do programa é anti-família- tradicional. Só pode. E não poderia ter feito melhor trabalho. É que “aquilo” é inacreditável em 2004. Vamos ver:
Obviamente de um meio social bem elevado. Marido de profissão liberal, encontra a mulher na faculdade e casam. Ela com um curso superior rigorosamente igual ao dele, arruma a sua formação e dedica-se a ser a fada do lar. Começam a ter filhos. Até ao momento 3, mas ainda são jovens ele afirma, com um sorriso significativo, que esperam ter muitos mais. Ele falou todo o tempo de antena enquanto a mulher sorria e abanava a cabeça. Aparentemente nem lhes passa pela cabeça que os anos em que ela andou a estudar poderiam ter sido melhor aproveitados. Talvez um curso de puericultura, ou ciências domésticas... O modelo que transmitiram chegava a ser engraçado, de tão antiquado era. Quantas famílias encontramos em Portugal representadas por aqueles dois? Só para rir.
Quanto á Educação que era o motivo do programa, deve ficar para outro programa... Falou um professor e um aluno, o primeiro dizendo coisas um pouco controversas. A Mª Emília argumentou bastante bem em relação a alguns comentários de César das Neves que não se vê bem a que título ali estava. Eduardo Sá tentou sempre levantar a bandeira do bom senso e tolerância familiar. Enfim um debate a prosseguir depois desdobrando o “dois em um” – um sobre Novas Famílias, e outro sobre Educação

M.L.

Sondagens e reacções naturais

Há um fenómeno muito engraçado quanto às sondagens de opinião. Eu, declaro já, que não percebo mesmo nada do assunto. Números não é comigo, ponto final. Tenho de acreditar que quem faz esses estudos sabe o que faz, e não posso criticar uma coisa que não sei.
Mas, o interessante é ver que quando o que as sondagens vêm ao encontro daquilo que nós pensamos, ficamos reforçadíssimos e a sentir como éramos inteligentes porque já sabíamos aquilo que os números vêm confirmar. Se por azar dizem o contrário do que pensamos, fica-se logo com a ideia de que o trabalho foi mal feito, não é possível aquele resultado.
Eu contra mim falo, porque sinto exactamente o que acabei de escrever! Também me irrito quando não se confirma o que penso e fico toda contente no caso oposto.
E, a propósito, lembro-me sempre, de que há bastantes anos havia no meu serviço uma comissão de trabalhadores. Acontece que eu era uma espécie de "presidente da mesa". Apareciam muitas propostas que eram discutidas e votadas. Um dos colegas fazia muitas propostas e fundamentava-as mas, por vezes, perdia. Dizia então: "Deixa-me explicar melhor; não entenderam" e voltava a argumentar. Votava-se e ele perdia. Repetia: "Desculpa, não entenderam, com certeza. Eu explico melhor" E isto sucessivamente até eu já me rir de gargalhada e dizer: "Desculpa lá! Toda a gente percebeu, só que não concordam!!!!" Lembro-me muitas vezes deste meu amigo, pois se ele estava tão certo de ter razão como era possível não concordarem com ele!?! Todos nós somos um bocadinho assim.

M.L.

Dia do Filho

Ontem foi Dia da Mulher. Para mim, hoje é o Dia do Filho. O meu rapaz faz anos e o post de hoje é para ele. PARABÉNS, meu querido!
Do meu ponto de vista, este é o dia mais importante do ano, se calhar também pelo facto do rapaz ter sido exemplar único. Quem põe os ovos todos no mesmo cesto tem tendência a cuidar exageradamente dele. Mas acho que fiz obra asseada!
O que tem graça é que em todos os 9 de Março vem a ladainha comum à esmagadora maioria dos pais:
“Já tantos??!”
“Ainda ontem nasceu!”
“Como o tempo passa depressa!!!”
Mas eu fico bem feliz por ver como este tempo passou. Afinal passou tão bem, e a nossa resistência às inevitáveis tempestades da vida tem resultado. Ver crescer um filho é dos momentos de felicidade que a vida nos pode dar, de felicidade pura, transparente, luminosa. Uma imagem que ainda me aquece, quando me sinto menos bem, é recordá-lo a correr muito, calcanhares a baterem no rabo, de braços abertos para mim. Já lá vão tantos anos mas aquela carinha radiosa a correr ao meu encontro é uma imagem de luz que me justifica ter vivido. Pensamos então que tudo vale a pena. Obrigada, querido.

M.L.

segunda-feira, 8 de março de 2004

8 de Março
É engraçado observar como um facto tão pacífico e, até certo ponto, aparentemente consensual, pode gerar posições tão fortes e antagónicas. Refiro-me a ter sido consagrado o 8 de Março como o Dia da Mulher. E, como quase sempre que as posições se extremam, rapidamente se perde a razão. Porque, no meu ponto de vista, o que acontece é misturarem-se conceitos e ideias e nessa caldeirada começamos a discutir coisas diferentes. Vamos ver se consigo expor as minhas ideias com alguma clareza:
Há quem recuse celebrar este dia. Afirme que só faria sentido se existisse um Dia do Homem. E é verdade. Se pensarmos neste dia como de defesa e protecção, como se se tratasse de uma minoria social, entendo que haja quem não o aceite. Na mesma linha o Dia da Criança e o Dia da Mulher, pode ser um pouco... enfim, ofensivo. Também eu reajo um pouco às revistas "femininas", e fez-me confusão o "Sic Mulher". Parece-me que é uma separação exclusivamente sócio-cultural e de estereótipos Mas, a verdade verdadeira, é que não sendo uma minoria, o género feminino ainda é tratado por todo o mundo de um modo discriminatório. Que tem havido, sobretudo nos países do norte, um avanço espectacular no último século e sobretudo nas últimas décadas, é um facto inquestionável. Mas que o "nascer-se mulher" é ainda enfrentar um mundo de dificuldades, creio ser consensual. Lá por ser desagradável, não quer dizer que não seja AINDA um facto que não se pode varrer para debaixo do tapete. Já sei, já sei, que há cada vez mais excepções,( ainda bem!) mas são, por enquanto, excepções.
Mas há a outra faceta. Por algum motivo se escolheu o 8 de Março. Não se pensa que o 1º de Maio, por ser o Dia do Trabalhador seja duma minoria e necessitar protecção, pois não?.As mulheres do 8 de Março são as operárias americanas que enfrentaram o mundo do trabalho. Não são as mulheres-criança, com necessidade de serem protegidas pelos homens, nem são as mulheres-flores, delicadas, frágeis, que devem ser levadas ao colo. É a Mulher-Força que se comemora neste dia. A que vai lutando lado a lado com os seus companheiros para que este mundo seja mais justo. É claro que sócio-culturalmente há diferenças de género. Não acho nada mal, até porque esses valores atribuidos à mulher são bons valores humanos, valores que qualquer homem não deveria renegar por serem considerados "femininos". Não são femininos nesse sentido, são humanos, e isso é bom e justo. Agrada-me essa diferença de género, por enquanto. E é tão bom um mundo com a diversidade de homens e mulheres.
É verdade, sou mulher, e este é um dia de luta e de festa.

M.L

Literatura e Cinema

Recentemente instalou-se nalgumas editoras um costume, que terá as suas razões comerciais, mas que não aprecio por aí além. Depois de um romance ter sido adaptado a filme, a capa do livro pasa a ser montada sobre uma imagem de uma cena desse filme. Muito frequentemente até com a imagem do actor principal.
Está claro que podemos cair na velha tentação da dúvida da origem do-ovo-e–da-galinha: se alguém viu o filme primeiro, pode ser chamado a querer comprar o romance em causa e esse desejo ter sido desencadeado por relembrar a imagem do filme... E isso é bom para as editoras. Mas, se o filme foi inspirado no livro, é porque este surgiu primeiro, não é? E para mim (por isso não aprovar este método) acho muito redutor limitar a imaginação de cada um às imagens, mesmo que muito boas, de um realizador. A personagem que eu encontrei a primeira vez que li qualquer romance, “inventei-a” eu, de acordo com as palavras do escritor. Mesmo sendo presunção, gosto da minha imaginação e desagrada-me que mandem nela. É certo que muitas vezes vejo adaptações e penso:”Mas que bem! Este actor está mesmo a calhar para esta personagem!” É por isso que a adaptação é boa. Mas o romance deve ter vida própria e autónoma. É essa a riqueza da literatura.
M.L.

domingo, 7 de março de 2004

Reflexões sobre o que é Educar

“ Sabem, eu tinha um fato espacial.
Tudo aconteceu assim:
- Papá – disse eu – quero ir à Lua.
- Com certeza – disse ele, voltando a olhar para o livro que estava a ler. Era a obra de Jerome K. Jerome, Três Homens num Bote, obra que ele já devia saber de cor.
- Papá, por favor! – disse eu – Estou a falar a sério.
Desta vez, ele fechou o livro, marcando-o com um dedo, e disse amavelmente:
-Já te disse que estava bem. Podes ir.
-Pois... mas como?
-Eh!? – Parecia levemente surpreendido – Mas... o problema é teu, Clifford.
O Papá era assim. Quando uma vez lhe disse que queria comprar uma bicicleta, ele respondeu-me: “Está bem, compra”, sem sequer pestanejar; por isso fui ao mealheiro que estava na sala de jantar, tencionando tirar o suficiente para comprar a bicicleta. Mas só lá havia onze dólares e quarenta e três cêntimos e, assim só comprei a bicicleta dali a mil milhas de relva cortada. Eu não disse mais nada ao Papá, pois se não houvesse dinheiro no cesto, não havia em mais lado nenhum; o Papá não ligava aos bancos (.......)” etc.
Este texto é da primeira página de um livro de ficção científica, de um autor que eu aprecio muito, Robert A. Heinlein. Mas não é sobre ficção científica que eu gostava de falar e sim sobre educação. Esta situação parece-me exemplar de um correcto momento educativo. É claro que sem se ter lido o romance não se pode saber que este pai já tinha ensinado ao filho como se construía uma cana, se colocava o anzol e qual o melhor isco. Entre o “dar o peixe” e o “mandar à pesca” tem de haver o momento de “ensinar como se pesca”, como é evidente. Mas tenho a firme convicção (e creio saber do que falo, que é a minha profissão) de que o problema mais grave da educação actual é os pais/educadores não encontrarem o ponto certo entre o facilitar exageradamente os gostos e desejos dos seus rebentos, ou o recusarem também radicalmente numa atitude de desinteresse por aquilo que é pedido. Encontrar esse ponto de equilíbrio não é nada fácil, mas é a base do processo educativo, acreditem.
M.L.

Emails

Podemos classificar nossos amigos de diversas maneiras conforme os mails que nos enviam.
Amigos "On-Line":
Mal acabamos de enviar um mail a resposta já está de volta.
Amigos "Off-Line":
Depois de um ano e oito meses a resposta vem... e sem referência.
Amigos "ADSL":
Aqueles que pensam que toda a gente tem banda larga. Só mandam mails enormes com animações em flash, vídeos, mp3, mpeg, etc...
Amigos "Tarados":
Só mandam badalhoquices, incluindo animais e bizarrias. Quase nos matam de vergonha quando abrimos os mails deles com alguém nas redondezas.
Amigos "Vale a pena ver de novo":
Aqueles que nos mandam aqueles mails que circulam na internet há mais de cinquenta anos como se fosse a primeira vez. Depois de seis meses, voltam a mandar.
Amigos "Fox Mulder":
Acreditam em todas teorias de conspiração e reenviam-nas para toda gente. Ainda fazem o comentário para todos lerem com atenção.
Amigos "Madre Tereza":
Estão sempre a enviar mails de pessoas com doenças, crianças desaparecidas, necessidade de dadores de sangue, etc.
Amigos "Paulo Coelho":
Enviam permanentemente totens, correntes, esoterismo, numerologias, etc.
Amigos "de Peniche":
Mandamo-lhes dez mails e eles não retribuem nem com meio.
Amigos "Bin Laden":
Só mandam mails bomba: ou têm vírus ou não abrem.
Amigos "Telegrama":
Nao usam acentuacao nem pontuacao
Amigos "Morse":
Aq q so sb esc em cod.
Amigos "Só Quando Precisam":
Aqueles que só se lembram de te mandar mails se for para pedir alguma coisa.
Amigos "Jack in the Box":
Encaminham o texto dentro de um anexo, que está dentro de um anexo, que está dentro de um anexo, que está dentro de um anexo, que está entro de...
Amigos "Sem Noção":
Mandam no mínimo 118 mails por dia. Pensam que temos bastante tempo para os ler.

M.L.

sexta-feira, 5 de março de 2004

Tonino Guerra

(reescrevendo O Mel)


Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada
pelas raízes das ervas
chegou à biblioteca banhando as palavras
guardadas

Quando tornou o bom tempo,
o jovem
levou os livros todos por uma escada até ao telhado
e abriu-os ao sol para que o ar quente
enxugasse o papel molhado.

Um mês de boa estação passou
esperava dos livros um sinal de vida.
Uma manhã finalmente as páginas começaram
a ondular ligeiras no sopro do vento
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados
e ele chorava porque os livros falavam.


Cá no Paraíso

Lido no D.N. que segundo a Marktest:
«Dois terços dos portugueses querem uma remodelação imediata no Governo de Durão Barroso, contra 29% que se dispõe a esperar pelas eleições europeias para ver mexidas no elenco ministerial»
e ainda
«Entre os nomes que ocupam as cadeiras governamentais, Manuela Ferreira Leite surge destacada: com os portugueses a decidir, a ministra das Finanças seria a primeira a deixar o cargo. Os inquiridos não perdoam a Ferreira Leite as dificuldades económicas dos últimos tempos - 32,7% defende a sua saída. Curiosamente, são as classe alta e média-alta que mais penalizam a ministra das Finanças: 34% contra 32,5 da classe média-baixa/baixa.»
Será difícil perceber que, como já disse bastante mais atrás, isto está cada vez mais a parecer um país do 3º mundo, com a classe média a desaparecer? Os "um bocadinho ricos" já estão a pagar a crise.
M.L.

Civismo, Educação e Estacionamento

Conduzir um automóvel é um dos actos mais sérios da vida em sociedade. Por isso é que para se ter licença de o fazer, se tem de tirar uma carta de condução. É certo que nos podemos imaginar num rali através do deserto onde tudo é nosso, mas desçamos à terra e temos de concluir que a esmagadora maioria dos condutores o faz em estradas ou ruas onde circulam os seus semelhantes. Sabendo isto, acho que tanto ou mais importante que fazer obedecer às nossas ordens o”bicho” onde nos sentamos, é respeitar os direitos dos que connosco partilham as mesmas estradas ou ruas.
É certo que o estacionamento em Lisboa é, no mínimo, difícil. São raros os prédios com garagens, os parques são poucos, e os gratuitos pouquíssimos. A EMEL lá disciplina através de pagamentos o pequeno estacionamento que vamos encontrando. E sabemos como os seus fiscais andam de cronómetro em punho a controlar se o tempo que pagámos foi ultrapassado. Por isso, porque até sou cumpridora, goste ou não goste, me irrita profundamente uma classe de “chicos espertos” que descobriram a pólvora: quando precisam de ir a qualquer sítio, não estão de modas, deixam o carrinho onde lhes dá jeito com os 4 piscas ligados (às vezes nem sequer isso) e vão à sua vida. Eu tenho reparado, que se dão até ao luxo de ligar o alarme. Não é ir num pulo comprar o jornal, ou tocar à campainha para o filho descer a escada. Ná. É mesmo para ir almoçar, cortar o cabelo, escolher a prenda para o dia da mãe...
Desculpem, mas eu passo-me completamente com as segundas filas. Já tenho ficado bloqueada (eu, que PAGUEI O ESTACIONAMENTO! ou às vezes à porta da minha casa) mais de meia hora até à chegada do meu carcereiro, calmamente a palitar os dentes. E o curioso é que creio que a EMEL nestes casos não actual porque eles não estão a ocupar o “seu” espaço. É claro. Estão a ocupar é a faixa de rodagem!
M.L.

Piadinha

Recebida de FW
Um alemão, um francês, um inglês e um português comentam sobre um
quadro de Adão e Eva no Paraíso.
O alemão disse:
- Olhem que perfeição de corpos: ela esbelta e espigada, ele com este
corpo atlético, os músculos perfilados... Devem ser alemães.
Imediatamente, o francês reagiu
- Não acredito. É evidente o Erotismo que se desprende de ambas as
figuras... ela tão feminina... ele tão masculino... Sabem que em breve
chegará a tentação... Devem ser franceses.
Movendo negativamente a cabeça, o inglês comenta:
- Que nada! Notem... a serenidade dos seus rostos, a delicadeza da
pose, a sobriedade do gesto. Só podem ser ingleses.
Depois de alguns segundos mais de contemplação, o português exclama:
- Não concordo. Olhem bem: não têm roupa, não têm sapatos, não têm
casa, só têm uma triste maçã para comer, com um 1º ministro que os pôs de
tanga, não protestam e ainda pensam que estão no Paraíso.
Só podem ser Portugueses!!!!
M.L.

quinta-feira, 4 de março de 2004

Vida? ... mas qual Vida ?

Uma coisa que me incomoda nestes movimentos “Pró-vida” (ou pró-prisão como os adversários lhe chamam) é que enchem muito a boca com todos os possíveis Apoios ou Ajudas à Grávida, mas não falam na Ajuda à Criança.
Ora, pelo que entendo, a mulher que não deseja uma gravidez não é pela gravidez em si, isso são 9 meses que se passam com maior ou menor incómodo. O grave é depois.
É o preço exorbitante dos infantários, porque os oficiais são quase inexistentes. É o custo do vestuário e das fraldas. É o arranjar tempo para dar a verdadeira atenção que qualquer criança merece. É o comprar e preparar convenientemente a sua alimentação. É a disponibilidade e paciência para a educar com valores e regras correctas. É conseguir que o patrão lhe dê as férias de acordo com as férias escolares. É tempo e capacidade para o acompanhar nas suas aprendizagens escolares.
...bem, acho que paro aqui, porque já me entenderam.
Um filho é algo de precioso que, quando vem no momento certo, parece um milagre. Quando o desejamos, a nossa vida reorganiza-se em função dele, tudo vale a pena, é magicamente o centro dos nossos interesses. Mas para que isso suceda os pais não podem pensar que é “um sacrifício”. Quando tal acontece, a criança não é amada, e com isso sim, com isso era importante preocuparmo-nos. Toda a criança tem o direito a ser amada. Tem o direito a ter os seus bens fundamentais – comida, teto e agasalho – mas sobretudo afecto dos adultos que cuidam dela. E disso não me parece que os “Pró-vida” cuidem lá muito. Não nos esqueçamos que estes movimentos nascem numa Direita, que em Espanha gritava “Viva la Muerte!”
M.L.